A Ordem dos Enfermeiros (OE) defendeu esta terça-feira a necessidade de um acordo urgente entre o Governo e os sindicatos em relação à "greve cirúrgica", alertando para o adiamento de mais de sete mil cirurgias.
Em comunicado, a OE, que tem uma reunião marcada com a ministra da Saúde para quarta-feira, assegura que os enfermeiros estão a cumprir "escrupulosamente os serviços mínimos".
"De acordo com as informações recolhidas hoje junto dos cinco enfermeiros diretores dos hospitais, a Ordem reitera que não houve nenhuma situação que tenha colocado em risco a vida de doentes, bem como sublinha que, mais uma vez, foi possível confirmar que os enfermeiros não só estão a cumprir escrupulosamente os serviços mínimos como estão a trabalhar para além desses serviços mínimos", refere a Ordem dos Enfermeiros.
No entanto, face ao número de cirurgias já adiadas, perante uma greve que decorre desde 22 de novembro e até ao final do ano, a Ordem lançou o apelo para um entendimento.
"A Ordem apela ao Governo que chegue a um entendimento urgente com os sindicatos, sob pena de agravar a situação de adiamento de cirurgias, às quais não será possível dar resposta nos próximos tempos, e o caos no SNS", refere a OE.
Na segunda-feira, a Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) e o Sindicato Democrático dos Enfermeiros (Sindepor) enviaram um ofício às administrações dos cinco hospitais onde decorre a greve a indicar que foi recomendado aos grevistas que "compareçam ao serviço no horário em que estão escalados, no dia 21 de dezembro, para possibilitarem a abertura de todas as salas e tempos operatórios habituais".
No documento, a que a agência Lusa teve acesso, os sindicatos dizem que pretendem "salvaguardar que nenhum doente oncológico classificado nível 3 e 4, bem como os que se enquadrem nas situações de urgência diferida" fiquem privados "de tempo operatório que permita a resolução da sua situação de saúde".
Em declarações à agência Lusa, a presidente da ASPE, Lúcia Leite, lembrou que com as tolerâncias de ponto para os dias 24 e 31 de dezembro, juntando os fins de semana e feriado de Natal, são sete dias em que as salas de cirurgias programadas ficarão fechadas até final da paralisação.
Para operar os "doentes de urgências diferidas que se estão a acumular", os sindicatos decidiram assim recomendar que os grevistas se apresentem ao serviço na sexta-feira no horário em que estão escalados, mas lembram que os enfermeiros em greve apenas podem assegurar os serviços mínimos.
Os enfermeiros já tinham também permitido um reforço de equipas em serviços mínimos para lá daquilo que o tribunal decretou para esta greve.
Os sindicatos admitem que "os constrangimentos" causados aos doentes "se estejam a agravar" e consideram que esta recomendação para os profissionais se apresentarem ao serviço na sexta-feira é "um ato de boa fé" que demonstra "permanente preocupação com o respeito pelos melhores interesses dos doentes".
Um grupo de enfermeiros iniciou uma recolha de fundos 'online' para a marcação de uma greve prolongada nos blocos operatórios de cinco dos maiores hospitais públicos do país, reunindo 360 mil euros, e que lhes permitiu convocar uma paralisação, com o respaldo de dois jovens sindicatos, entre 22 de novembro e o final do ano.
A greve já levou ao cancelamento de cirurgias programadas no Centro Hospitalar Universitário de S. João (Porto), no Centro Hospitalar Universitário do Porto, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e no Centro Hospitalar de Setúbal.
Em causa estão queixas sobre a falta de valorização dos enfermeiros e sobre as dificuldades das condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde (SNS), pretendendo uma carreira, progressões que não têm há 13 anos, bem como a consagração da categoria de enfermeiro especialista.
A Federação Nacional dos Sindicatos dos Enfermeiros (FENSE) levantou por sua vez hoje uma greve marcada para os dias 26, 27 e 28 de dezembro.
O anúncio da FENSE, que agrega o Sindicato dos Enfermeiros e o Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem, surge após uma reunião com a Comissão Negociadora do Ministério da Saúde e das Finanças, que decorreu na Administração Central do Sistema de Saúde, em Lisboa.
Esta greve não tinha qualquer ligação com a 'greve cirúrgica" dos enfermeiros que está a decorrer nos blocos operatórios de cinco hospitais do país e que está previsto terminar a 31 de dezembro.
Fora das negociações está, no entanto, a Comissão Negociadora Sindical dos Enfermeiros (CNESE), alegando falta de propostas sobre progressões e o pagamento do suplemento aos especialistas, imprescindíveis para a continuidade das negociações.
Na reunião negocial, de 5 de dezembro, a Comissão Negociadora Sindical dos Enfermeiros afirmou "ser imprescindível para a continuidade do processo negocial" que o Governo emitisse orientações sobre a "justa contagem dos pontos a todos os enfermeiros para efeitos do descongelamento das progressões" e ao pagamento do suplemento remuneratório aos enfermeiros especialistas.