Começam com um dia de diferença e decorrem ambas até 13 de setembro. As Feiras do Livro de Lisboa e Porto vão este ano, pela primeira, vez coincidir no tempo, mas decorrem com regras diferentes. Enquanto em Lisboa as atividades paralelas estão suspensas, no Porto há concertos, conferências e outras atividades programadas.
A Feira do Livro de Lisboa, organizada pela Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros (APEL), em colaboração com a Câmara de Lisboa, que chegou a estar programada para maio, vai arrancar a 27 de agosto no Parque Eduardo VII. À Renascença, Pedro Sobral, vice-presidente da APEL, explica que tentaram “salvaguardar ao máximo aquilo que é a grande festa do livro e o contato entre os autores e os leitores”.
Na 90.ª edição da feira haverá sessões de autógrafos, mas “tudo o resto”, como por exemplo “as sessões de lançamento, apresentações, eventos ligados à música ou os ‘showcookings’ não existirão”, explica Sobral.
Segundo este responsável da editora Leya, as atividades paralelas não acontecerão “porque poderão criar ajuntamentos” e Pedro Sobral aponta que “nem a APEL, nem a Câmara Municipal querem manchar uma edição criando a probabilidade de alguns eventos produzirem” esses ajuntamentos proibidos por lei.
Pelo contrário, a Feira do Livro do Porto, que arranca a 28 de agosto e decorre até 13 de setembro nos Jardins do Palácio de Cristal, tem previsto um conjunto de atividades paralelas, desde logo uma série de concertos ao final da tarde.
Em declarações à Renascença, Nuno Faria, comissário da feira organizada pela Câmara do Porto, explica que com a curadoria do Espaço Maus Hábitos montaram uma série de “concertos de bolso”.
Em dois palcos irão atuar “sobretudo bandas do Porto”, diz Nuno Faria, que detalha que os concertos decorrem de 28 de agosto a 12 de setembro com um concerto que vai juntar os pianistas Mário Laginha e Pedro Burmester. Serão “concertos curtos” explica este responsável que destaca o facto de a programação abranger estilos de música muito diferentes. Programado está também um ciclo de conversas em torno da literatura que tem a curadoria de Anabela Mota Ribeiro e do escritor José Eduardo Agualusa.
Ambas as organizações das feiras do Livro de Lisboa e Porto garantem, no entanto, que apertaram todas as medidas de segurança e higiene. No caso de Lisboa, o responsável da APEL, Pedro Sobral explica que quanto à circulação de público haverá “fluxos de entrada e saída independentes”, e quanto ao uso da máscara e limpeza das mãos será obrigatório “na entrada dos vários expositores e de cada praça” na feira.
Já no Porto, onde este ano o recinto da feira foi alargado, “haverá entradas e saídas controladas”, refere Nuno Faria, que explica ainda que não será necessário o uso de máscaras no espaço ao ar livre. “Nos lugares interiores onde ocorrerão conversas, palestras e debates, aí sim, será obrigatório o uso de máscara”. Outra das exceções, será “quando houver interação comercial, na compra de um livro” acrescenta Nuno Faria, “quer livreiro, quer leitor usarão máscara”.
Para quem gosta de ir à Feira do Livro e aproveitar a oportunidade para caçar um autógrafo, em Lisboa as sessões “irão seguir as regras de distanciamento social e as filas serão geridas de forma a garantir esse distanciamento social”, diz Pedro Sobral. No entanto, tentando manter a aposta na proximidade entre escritores, editores e leitores, a edição da Feira do Livro de Lisboa “terá pela primeira vez, um complemento virtual”.
O vice-presidente da APEL diz à Renascença que vão “disponibilizar aos associados a possibilidade de ter ‘on-line’ não só um espelho daquilo que se está a passar na feira, isto é, os livros com descontos e toda a atividade comercial dos livros; mas também terem as tais apresentações e lançamentos, que não são possíveis fisicamente, na componente virtual”.
Nas palavras de Sobral, esta nova aposta no digital é “uma excelente oportunidade porque permite levar a Feira do Livro para fora de Lisboa e permite também que alguns associados que ainda não têm uma presença ‘on-line’ significativa, aproveitarem esta ferramenta durante a feira”.
Há também novidades na edição da Feira do Livro do Porto, deste ano. Desde logo, o certame terá um mote e foi buscá-lo ao título de um livro de poesia de Andreia C. Faria. “Alegria Para o Fim Do Mundo” irá inspirar uma feira que aposta na escrita no feminino e onde será também prestada homenagem a Maria de Sousa, a escritora e imunologista que morreu, vítima de Covid-19. À Renascença, o comissário da feira explica que sentiram “necessidade este ano de convocar esse mote, por aquilo que temos vivido”, no contexto de pandemia.
Nuno Faria, que fala numa edição da feira num “contexto excecional”, indica ainda que a poetisa Leonor de Almeida será outra das homenageadas, numa edição que celebra também a Língua Portuguesa. Nascida no Porto em 1909, Leonor de Almeida é uma poetisa desconhecida do grande público, foi autora de quatro livros de poemas, editados entre 1947 e 1960, todos eles hoje esgotados.
No Porto há, nesta altura, 119 stands inscritos para a feira e representam 80 entidades (entre livreiros, editoras, alfarrabistas, distribuidores, e entidades públicas ou privadas). Já no caso de Lisboa, Pedro Sobral explica que quando foi suspensa a feira programada para maio, a APEL devolveu aos seus associados o valor da inscrição no evento.
Passados estes meses em que muitas editoras e livrarias viram o seu negócio afetado pelo impacto da paragem da atividade, “a boa notícia”, chama-lhe o vice-presidente da APEL, é que “o número de expositores é sensivelmente igual ao que estava previsto em maio. Há algumas alterações, mas falamos de pequenos detalhes”, aponta Pedro Sobral que conclui: “a boa noticia é que a maioria que estava prevista estar, estará presente no Parque Eduardo VII a partir de 27 de agosto”.