Num ano marcado pelos constrangimentos e encerramentos nas maternidades, o número de nascimentos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentou 2,3% até ao final de novembro, mas aumentou ainda mais no setor privado.
De acordo com os dados do “Teste do Pezinho”, disponibilizados à Renascença pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), nos primeiros 11 meses do ano foram testados 79.078 recém-nascidos no âmbito Programa Nacional de Rastreio Neonatal, mais 2.386 do que em igual período de 2022.
Destes, 18.465 nasceram em hospitais privados. São mais 924 do que no ano passado, o que representa um crescimento de 5,4%.
Lisboa foi a zona do país onde nasceram mais bebés (23.805) seguida do Porto (14.206) e Setúbal (6.396) e Braga (5.837).
Na Região de Lisboa e Vale do Tejo, que é a mais afetada pelos encerramentos de maternidades, segundo os dados divulgado pela Direção Executiva do SNS, até novembro nasceram 22.629 crianças no Serviço Nacional de Saúde, o que representa mais 3% em relação ao ano passado. Já no setor privado, os nascimentos aumentaram 5,2% na mesma região.
Para Nuno Clode, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, esta situação já era previsível: “Tal como diz a Direção Executiva do SNS, as pessoas confiam no SNS e, por isso, é que o número de partos aumentou mas, ao mesmo tempo, também não confiam e, por isso, é que vão parir mais aos privados”, afirma o especialista em declarações à Renascença.
Na opinião do obstetra, tal explica-se porque, apesar de confiarem no SNS, as grávidas receiam a imprevisibilidade.
“Já se sabia que muitas grávidas estavam a optar pelo regime privado porque se sentiam mais tranquilas, sentiam-se mais confiantes, estavam menos sujeitas a esta vida inesperada de não saberem se a maternidade estaria aberta ou fechada. Quem assiste grávidas sabe que esta é uma realidade que elas reportam e que toleram mal”, justifica Nuno Clode.
O especialista acrescenta que “é natural que as grávidas continuem a preferir a estabilidade, que é saber que têm uma maternidade que está aberta e as recebe - que é o que se passa nos hospitais privados, embora estes também tenham limites”.
Nuno Clode admite que a situação nas maternidades do SNS vai melhorar no início do ano, pelo menos, enquanto os médicos não esgotarem o limite de 150 horas extraordinárias que têm de fazer.
"O facto de os médicos voltarem a fazer horas extraordinárias, até março/abril a situação, do ponto de vista das maternidades e da assistência médica, vai melhorar”, afirma o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal.
Nuno Clode lamenta ainda a situação que levou os obstetras do Hospital de Santa Maria a recusarem trabalhar no hospital São Francisco Xavier já a partir de janeiro e salienta que é muito importante o facto de os nascimentos terem aumentado em 2023.
“Nós precisamos de mais gente e este aumento da natalidade é muito importante”, conclui.