A Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) decidiu enviar aos órgãos de soberania um relatório sobre a campanha presidencial de André Ventura, líder do Chega, que condena o “clima de ameaças à liberdade de expressão e de informação”.
O documento foi elaborado elaborado após audição de sete jornalistas dos mais de 20 que cobriram as duas semanas de campanha - entre jornalistas e repórteres de imagem (vídeo e foto). Segundo comunicado da CCPJ, vai ser remetido ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, ao primeiro-ministro, à procuradora-geral da República, à provedora de Justiça, à Comissão Nacional de Eleições, à Entidade Reguladora para a Comunicação Social e ao Sindicato dos Jornalistas.
"Foi notório e foi notícia o clima de ameaças à liberdade de expressão, de informação e de manifestação vivido na campanha do candidato André Ventura, presidente do partido Chega", conclui a CCPJ.
Ameaças presenciais e nas redes sociais
Aquela entidade adianta ter sido contactada sobre o assunto pela missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que estava a acompanhar a campanha eleitoral a convite do Governo português.
"As ameaças não foram apenas presenciais. Nas redes sociais, o tom usado por alguns apoiantes e por, pelo menos, um dirigente do Chega é passível de ser enquadrado como crime. Nas redes sociais, o discurso de ódio é uma constante e algumas jornalistas chegaram a receber ameaças diretas. Presencialmente também, sobretudo no jantar de Braga", lê-se no texto da CCPJ.
A entidade que emite as carteiras profissionais dos jornalistas em Portugal continua: "Em vários momentos, [os repórteres no local] perceberam que as coisas podiam correr mal devido aos protestos recorrentes, em várias cidades, de manifestantes anti-Chega, e foi isso mesmo que aconteceu em Setúbal, já quase no fim da campanha."
"Todos os jornalistas ouvidos têm dúvidas sobre o que de facto aconteceu naquela tarde e que terminou com uma 'limpeza de rua' e uma carga policial sobre alguns manifestantes. Nenhum jornalista diz ter assistido à 'chuva de pedras' relatada nas televisões pelo comandante distrital de Setúbal", declara-se no comunicado da CCPJ.