Luanda Leaks. Advogado de Rui Pinto confirma que hacker é o denunciante do caso
27-01-2020 - 08:27
 • Carla Caixinha

Documentos terão sido entregues em 2018. Rui Pinto esclarece que "entregou este disco rígido, no cumprimento do que entende ser um dever de cidadania".

Os advogados de Rui Pinto assumem, esta segunda-feira, que o hacker (pirata informático] português esteve por detrás da denúncia do caso Luanda Leaks, que envolve a empresária angolana Isabel dos Santos.

O comunicado dos advogados enviado à redação confirma que o jovem foi responsável pela divulgação de mais de 715 mil documentos que deram origem aquela investigação.

“Os advogados abaixo assinados declaram que o seu cliente, o Sr. Rui Pinto assume a responsabilidade de ter entregue, no final de 2018, à Plataforma de Proteção de Denunciantes em África (PPLAAF), um disco rígido contendo todos os dados relacionados com as recentes revelações sobre a fortuna de Isabel dos Santos, sua família e todos os indivíduos que podem estar envolvidos nas operações fraudulentas cometidas à custa do Estado angolano e, eventualmente, de outros países estrangeiros”, refere a nota.

De acordo com o mesmo texto, o jovem procurou ajudar a entender operações complexas conduzidas com a cumplicidade de bancos e juristas que não só empobrecem o povo e o Estado de Angola, mas podem ter prejudicado seriamente os interesses de Portugal.

“Rui Pinto esclarece que entregou este disco rígido, no cumprimento do que entende ser um dever de cidadania, e sem qualquer contrapartida, depois de tomar conhecimento das missões realizadas pela organização PPLAAF, permitindo que usassem os dados como entendessem.”

Os documentos entregues foram depois partilhados com o Consórcio de Jornalistas Internacionais (ICIJ) para tratamento mediático e o resultado desta investigação de 120 jornalistas de 36 meios de comunicação social, em 20 países, tem sido publicado nos últimos dias, com várias consequências: a investigação interna da firma de consultadoria PWC; a saída de Isabel dos Santos do EuroBic e da Efacec e o abandono dos seus advogados; e morte do gestor de conta do EuroBic.

No final, o comunicado revela que Rui Pinto “está satisfeito” por ver que, graças ao trabalho do consórcio de jornalistas, todos os dados foram verificados e validados e, portanto, “encabeçaram as revelações que necessariamente levarão à abertura de investigações criminais em muitos países, incluindo Portugal”.

De acordo com os advogados, foi graças ao Rui Pinto que os cidadãos tiveram “acesso à verdade de um extraordinário sistema de predação e corrupção, gravemente prejudicial para Portugal, Angola e outros países”.

Isabel dos Santos foi constituída arguida, em Angola, na sequência das revelações do Luanda Leaks. Neste momento, é suspeita de má gestão e desvio de fundos enquanto liderou a petrolífera estatal angolana Sonangol.

O pirata de 30 anos, natural de Vila Nova de Gaia, está preso preventivamente em Portugal desde março de 2019 e aguarda julgamento pelo envolvimento no caso Football Leaks, em que está acusado de 90 crimes.