Depois da sua esmagadora vitória eleitoral, Boris Johnson passou a ter uma sólida maioria de deputados na Câmara dos Comuns. Por isso ninguém duvida de que o Reino Unido saia da UE no último dia do corrente mês. Assunto encerrado, então? Nada que se pareça.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, encontra-se hoje em Londres com o primeiro-ministro Boris Johnson. Não é uma mera reunião protocolar. Agora começa uma nova fase de negociações entre o Reino Unido e a Europa comunitária, negociações para definir as futuras relações entre as duas partes – provavelmente um acordo de comércio livre, já que os britânicos não querem fazer parte da união aduaneira nem do mercado único, pois desejam reduzir ao mínimo a dependência do seu país das regras e regulamentos da UE.
Boris já tomou uma decisão que irá complicar essas negociações: vai estabelecer em letra de lei que as negociações sobre o futuro das relações UE-Reino Unido terão de terminar antes do fim do corrente ano. A Comissão Europeia deverá receber em finais de fevereiro um mandato do Conselho para negociar o acordo com o Reino Unido (Michel Barnier será, de novo, o chefe dos negociadores da UE). Ora o acordo que os britânicos encaram como modelo a seguir é o acordo comercial UE-Canadá – que levou cinco anos a negociar…
Por isso Ursula von der Leyen tentará hoje convencer Boris a permitir alargar aquele prazo, como aliás se prevê no acordo de saída do Reino Unido. É improvável que Boris recue neste ponto, pois ele julga que a pressão do tempo jogará a favor do seu país. O problema é que, assim, permanece a possibilidade de não haver acordo quanto às futuras relações entre as duas partes, mantendo um clima de incerteza, que prejudica as decisões dos agentes económicos.
O comissário europeu do comércio, o irlandês Phil Hogan, já se manifestou publicamente a favor de um prazo mais longo do que o imposto por Boris Johnson para as negociações. E isto sem falar do problema da fronteira entre a República da Irlanda e o Ulster (Irlanda do Norte). Este ponto foi renegociado por Boris Johnson – mas a solução encontrada é muito mal vista no Ulster pelas forças políticas pró-britânicas. Não é de excluir que surjam aqui dificuldades, a exigir mais tempo de negociação.
Uma outra zona de dúvidas diz respeito a quantos bens e serviços britânicos ficarão sujeitos aos regulamentos de Bruxelas e por quanto tempo. Empresas britânicas de setores como a fabricação de automóveis, a indústria farmacêutica e a aviação parecem desejar que se prolongue o mais possível a sujeição aos regulamentos da UE – mas não é certo que o governo de Londres apoie essa pretensão.
Enfim, problemas de difícil negociação não faltam. Mas uma fonte de Downing Street (o gabinete do primeiro-ministro) falou ao “The Guardian” em termos inequívocos: “em nenhuma circunstância prolongaremos o período de negociação”. Ou seja, a possibilidade de o Reino Unidos sair da UE sem acordo não está afastada.
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