O director-geral da Saúde, Francisco George, que tutela a Linha Saúde 24, acusa o bastonário da Ordem dos Médicos de estar a alimentar uma luta corporativa com base em argumentos falsos.
Através da sua conta no Facebook, o bastonário José Manuel Silva comparou os montantes pagos pelo Estado à empresa que gere a linha telefónica de saúde pública com aquilo que um médico recebe à hora no atendimento presencial aos doentes.
“Essas palavras do meu colega não fazem qualquer sentido e traduzem uma luta incompreensível, corporativa, entre médicos, contra enfermeiros. Não é tolerável que o representante dos médicos venha agora falar de assuntos que não conhece, com incorrecções graves e com dados falsos”, acusou Francisco George.
Questionado pela Renascença acerca dos dados em questão, o director-geral da Saúde precisou: “Não só os dados são falsos, [como] já tive ocasião de lhe telefonar a dizer que ele estava totalmente enganado, e que tinha que desmentir as suas palavras, porque é o Estado que suporta essas despesas, num quadro de um concurso que foi aprovado para o Tribunal de Contas."
“Em nenhuma situação há uma chamada com custo superior a 6,53 euros pagos pelo Estado à empresa operadora, que contratou 350 enfermeiros e que utiliza os sistemas de esclarecimento”, disse.
"Um caminho que engana os portugueses”
Nestas declarações à Renascença, Francisco George diz esperar uma atitude diferente por parte do futuro bastonário da Ordem dos Médicos.
“É preciso esperar pela eleição, amanhã [quinta-feira] mesmo, do próximo bastonário e alertá-lo que ele não deve seguir este caminho que é um caminho politiqueiro, um caminho incorrecto, um caminho que engana os portugueses que é absolutamente intolerável nos dias de hoje. Temos que ser rigorosos, temos de procurar a verdade sempre que falamos”, disse.
“Não faz sentido inventar números e pô-los como se eles fossem verdade. Não. O rigor, a verdade, a transparência, a verticalidade são valores e são princípios que não podem ser alterados”, rematou.
A DGS enviou, entretanto, um comunicado às redacções a clarificar os dados em causa, no qual se lê que o contrato de prestação de serviços da Saúde 24 “está disponível para consulta no portal base.gov e tem como valor contratual anual 4.999.222,45 euros”.
No último dia de mandato, o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, classificou a Linha Saúde 24 como um escândalo e um desperdício de recursos por parte do Estado, e acusa o Estado de pagar 16 euros por telefonema à empresa gestora da Saúde 24, enquanto os médicos internos recebem apenas cinco euros à hora pelo atendimento aos doentes.
Evitadas 1,4 milhões idas desnecessárias às urgências
Corroborando as declarações de Francisco George à Renascença, lê-se também no comunicado da DGS que “no primeiro trimestre do contrato, por cada telefonema para a Saúde 24, o Estado paga directamente à empresa seleccionada o montante, em média, de 6,53 euros enquanto o cidadão utilizador paga unicamente cerca de 8 cêntimos por minuto, valor correspondente a uma chamada local.”
“Além disso”, diz, “é um serviço sistematicamente auditado pela Direcção-Geral da Saúde” e que, “provavelmente, será mesmo o contrato desta natureza mais fiscalizado, em termos de rigor, em Portugal”.
Em dez anos, continua a nota, a Linha Saúde 24 recebeu o contacto de mais de 2,3 milhões de cidadãos. Do total de sete milhões de telefonemas, “estima-se que foram evitadas mais de 1,4 milhões de idas desnecessárias às urgências, sendo que mais de 50% das chamadas ocorrem entre as 17h00 e a 1h00, período em que os enfermeiros e os médicos nos centros de saúde, em muitas situações, já não estão disponíveis”, sublinha.