O Sindicato dos Profissionais da Polícia (SPP) acusa o Governo de “pouca abertura” para atender as reivindicações dos polícias.
A queixa fez-se ouvir à porta da Presidência do Conselho de Ministros, em Lisboa, onde esta manhã realizou-se uma manifestação simbólica para assinalar os 34 anos do protesto realizado no Terreiro do Paço que ficou conhecido como “secos e molhados”.
Paulo Macedo, presidente do SPP, entregou um documento com várias queixas, mas não se mostrou otimista quanto à hipótese de serem atendidas.
“Temos algumas reuniões durante o ano, poucas. Não há abertura por parte do Governo para negociar nenhuma destas situações: o direito à greve, o direito à pré-aposentação de acordo com o Estatuto que está aprovado, devia ser cumprido, mas não está a ser cumprido”, denunciou Paulo Macedo.
O dirigente sindical destacou ainda a necessidade de rever a remuneração de um polícia que, diz, “é muito baixa”.
“Todos os polícias, quando entram na instituição iniciam a sua a sua atividade em Lisboa. Os quartos e as em Lisboa são muito caras. Um polícia a ganhar 800 e poucos euros não tem condições para pagar uma casa, em Lisboa, quando muitas vezes tem vida e família constituída noutras partes do país”, explica.
“Temos uma panóplia de problemas que o Governo, com maioria absoluta, não está a querer resolver”, reforça.
Paulo Macedo assegurou ainda que o SPP vai dar início a uma
ronda junto dos grupos parlamentares para dar a conhecer o caderno reivindicativo
das estruturas sindicais e garantiu que vão “continuar a lutar”.
Luta sindical “recuou 30 anos”
Entre os cerca de 20 a 30 polícias presente na manifestação simbólica desta sexta-feira estava António Ramos, um dos seis polícias que há 34 anos foi detido no Terreiro do Paço, nos secos e molhados.
Questionado sobre o que se ganhou ou perdeu nestas mais de três décadas, António Ramos começou por enaltecer que se “ganhou muito”, lembrando que, na PSP, o “movimento sindical foi um processo muito complicado, clandestino”.
“Eramos o único país da Europa onde a polícia não tinha liberdade sindical”, recordou.
António Ramos considera que foi feito “muito trabalho” e foram alcançadas “melhores condições de trabalho” e “melhores salários”.
No entanto, acrescenta, “muitas coisas estão a perder-se, é com grande tristeza que estou a ver que estamos a recuar 30 anos”.
O antigo sindicalista referia-se à lei sindical aprovada em 2020 que, segundo António Ramos, “não tem força nenhuma” e representa “um recuo de 30 anos”.
António Ramos quis então “apelar à juventude, aos jovens polícias nas esquadras” que, diz, “estão um bocado alheados do sindicalismo”.
“Se eles hoje têm o que têm, deve-se a muito esforço e a muito sacrifício. Houve homens que foram expulsos da polícia por atividade sindical”, lembra.
“Os jovens devem ter consciência de classe e lutar porque as coisas não caem do céu”, remata.