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O ministro das Finanças deu esta segunda-feira à noite uma entrevista na TVI, depois de na última semana o Eurogrupo (do qual é presidente) ter aprovado um pacote de 500 mil milhões de euros (Portugal acede a 4.500 milhões) para a economia europeia responder à crise provocada pela Covid-19.
Mário Centeno rejeita que, no caso concreto de Portugal, a economia esteja “em escombros”, mas admite que “está parada, quase parada” e que “vão ser precisos pelo menos dois anos para voltar aos níveis de crescimento de 2019”. Isto, claro, “se a crise se contiver no segundo trimestre”.
“O segundo trimestre vai ter uma quebra próxima de quatro ou cinco vezes o máximo que já vimos um trimestre cair em Portugal”, explicou, não admitindo, ainda assim, que a mesma, no total do ano, chegue aos dois dígitos.
A recessão, essa, é uma certeza, mas Centeno prefere não confirmar por ora os cenários previstos para Portugal, que apontam uma quebra entre os 4,5% e os 8%. “As estimativas que existem estão enquadradas em impactos de 6,5% por cada 30 úteis dias, ou seja, um mês e meio, como aqueles que vivemos hoje. Mas este processo não é linear e vai-se deteriorando.”
Parte da solução para impedir tal deterioração passará por voltar a abrir a economia ao exterior, uma vez que Portugal, lembrou Centeno, “tem 45% do PIB assente nas exportações”. “Mas não podemos retomar a nossa economia sem que haja uma decisão global. É nisso que a Europa está focada”, advertiu.
Embora estime um impacto da crise nas contas públicas (já pesando as medidas de apoio ao emprego) “entre os seis e os sete mil milhões de euros”, o ministro das Finanças rejeita, tal como o primeiro-ministro António Costa já o havia feito, que a austeridade seja uma opção.
“O que temos que garantir é que há dinheiro para acudir à fase aguda da crise. É uma crise temporária, não é uma crise do nosso mercado de trabalho, não é uma crise do mercado financeiro, dos bancos. Estamos a tentar resolvê-la na sua origem, que não é económica. E temos que desenhar com a União Europeia o processo de saída desta crise. Não é uma saída imediata, porque não há solução definitiva para a crise sanitária, mas vamos tentar recuperar ao longo do ano”, explicou Mário Centeno.
"Tudo isto é novo"
Na entrevista à TVI, Centeno declarou o acordo obtido na reunião dos líderes das Finanças europeus uma “vitória”. Mas não uma vitória pessoal, de Centeno, nem de outros países, como a Holanda, “que foi o último país a juntar-se às medidas e o mais reticente”.
“Somos todos vencedores deste projeto europeu. A decisão da semana passada foi um dos momentos em que acumulámos mais capital em favor desse projeto. O que disse aos ministros das Finanças [na reunião] foi que este não é o fim da linha, que nós temos que fazer mais pela Europa e vamos fazer mais pela Europa. Os ministros das Finanças não se podiam dar ao luxo de parar e não continuar um processo de decisão que tinha que ter uma resposta positiva”, explicou Mário Centeno.
Sobre a crise económica com que a Europa se depara (e continuará a deparar) face à pandemia da Covid-19 – Centeno fala mesmo “num choque de uma escala absolutamente inimaginável” –, o ministro das Finanças lembra que, ao contrário de crise anteriores, como a das dívidas soberanas, em 2008, “tudo isto é novo”.
“Em 2008 demorámos muito tempo para reagir e as primeiras decisões não foram as melhores. Talvez nem as primeiras nem as segundas. Mas essa crise foi pré-anunciada durante 10 anos. Desta vez, em 10 dias, conseguimos tomar decisões. E os países europeus podem, no imediato, dar resposta a esta crise. Estamos a jogar um jogo sem ter lido as regras. Foi uma resposta muito corajosa, mas para responder ao hoje. Para que todos os países tenham liquidez”, explica.
Saúde com “aumento histórico” no orçamento, TAP pode ser nacionalizada. E o "general", continua?
Durante a entrevista, diversas vezes Mário Centeno rejeitou ter feito quaisquer cortes ou cativações no setor da Saúde, lembrando que “a despesa até cresceu” no Serviço Nacional de Saúde (SNS). “E é por causa disso e da enormíssima dedicação dos nossos profissionais de saúde que estamos a ter o desempenho que estamos a ter. O SNS partiu para 2020 com o maior aumento orçamental da sua história”, garantiu.
Noutros campos da economia que não a Saúde, nomeadamente a TAP e o setor da energia, o ministro das Finanças não põe de lado o recurso à nacionalização de empresas estratégicas.
“Não vamos seguramente retirar nenhuma possibilidade que esteja em cima da mesa para dar resposta”, afirmou Mário Centeno, garantindo, em concreto, quanto à transportadora aérea que “há muitas formas de intervir e essa [nacionalização] pode ser uma delas”.
A terminar, e questionado sobre se abandonará a pasta das Finanças em junho próximo ou não, Mário Centeno resolveu prolongar o tabu, não “fulanizando” a questão.
“Não estamos em tempo de nos preocuparmos com essa questão. Estamos em tempo de dar resposta a este enormíssimo desafio, o desafio de uma geração. Não vamos fulanizar estas questões. Estamos todos neste combate. O general [Centeno] nem sequer é a peça mais importante de tudo isto: são os profissionais de saúde, aqueles que nas suas empresas garantem emprego. Não mereço tamanha distinção.”
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 117 mil mortos e infetou quase 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Em Portugal, segundo o balanço feito esta segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde, registam-se 535 mortos, mais 31 do que no domingo, e 16.934 casos de infeção confirmados, o que representa um aumento de 349.