Com o número de casos de Covid-19 a aumentar, os especialistas consideram importante que as pessoas mais vulneráveis, entre elas, os idosos, devem ser vacinadas, desde já, com o segundo reforço vacinal (booster), e não apenas no final do mês de agosto.
O número de casos disparou no mês de abril, com cerca de 265 mil casos registados, o que significa, 18 vezes mais do que no ano passado.
Também o número de mortes no mês passado subiu de 108, em 2021, para 589, por esta altura, o que dá uma média de quase 20 mortos por dia devido à Covid-19.
São números preocupantes que levam o pneumologista Filipe Froes a defender a necessidade de acelerar a administração da segunda dose de reforço da vacina, a começar pelos mais idosos e pessoas com fatores de risco.
“Para mim, faz sentido a administração do segundo ‘booster’ nesta fase, precisamente para contribuir para diminuir o impacto que estamos a verificar”, e assim, “proteger mais estas pessoas para os próximos meses e criar condições para que no final do ano houvesse mais facilidade para as mesmas”, defende o virologista, em declarações à Renascença.
Filipe Froes defende que as autoridades devem começar a organizar-se, desde já, para antecipar a época de outono-inverno e alerta para o facto da vacina em utilização está desatualizada, tendo em conta as novas variantes que foram surgindo.
“Não nos podemos esquecer que estamos a utilizar uma vacina que foi criada há dois anos para uma estirpe ancestral, entretanto substituída por cinco variantes”, recorda.
Apesar de ter sido “muito eficaz”, a vacina “cumpriu o seu percurso de vida útil” e será “substituída por uma nova”, ainda que, sublinha o especialista do Centro Hospitalar Lisboa Norte, se possa “beneficiar desta vacina, neste momento, para proteger as populações mais vulneráveis”.
Contudo, acrescenta, “devemos começar a preparar para uma eventual nova vacina, para administrar na próxima época outono/inverno, à semelhança do que acontece, por exemplo, com a gripe, com uma nova vacina todos os anos”.
O médico vai mais longe e sugere às autoridades de saúde que pensem em alternativas para proteger as pessoas, sobretudo aquelas que são incapazes de conseguir uma resposta imunológica com a vacina.
“Estamos a verificar mortalidade, sobretudo, em pessoas que tiveram dificuldade em montar uma resposta imunológica à vacina, o que nos deve obrigar a pensar em alternativas para estes doentes, vulgarmente denominados “prisioneiros da pandemia”, ou seja, aqueles para quem o estado imunitário não lhes permite dar uma resposta eficaz apesar de estarem vacinados”, por isso “têm que beneficiar de outras alternativas”, menciona.
O pneumologista exemplifica com o que já acontece noutros países, onde são administradas a essas pessoas, “profilaxia predisposição com anticorpos monoclonais”.
“São esses dados que nos podem ajudar a fundamentar uma decisão nesse sentido para Portugal”, conclui.
No final de abril a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou a orientação sobre o uso obrigatório e recomendado de máscara, considerando que a sua utilização se mantém como uma "importante medida" para conter as infeções pelo coronavírus SARS-CoV-2.
"Apesar da elevada cobertura vacinal em Portugal, a utilização de máscaras na comunidade é uma medida eficaz na prevenção da transmissão de SARS-CoV-2 e continua assim a ser uma importante medida de contenção da infeção, sobretudo em ambientes e populações com maior risco para infeção", refere o documento assinado pela diretora-geral Graça Freitas.
A orientação, entre outras situações, recomenda o uso de máscaras para as pessoas mais vulneráveis, nomeadamente com doenças crónicas ou estados de imunossupressão com risco acrescido para covid-19 grave, sempre que em situação de risco aumentado de exposição.
É também recomendado o seu uso por pessoas que tenham contacto com outras mais vulneráveis, assim como por "qualquer pessoa com idade superior a 10 anos sempre que se encontre em ambientes fechados, em aglomerados".
Nestas declarações à Renascença, Filipe Froes sublinha a importância desta recomendação que, aliás, faz questão de repetir junto dos seus doentes de maior risco.
“Tenho aconselhado aos meus doentes de maior risco e de maior suscetibilidade, manterem a máscara”, confirma.
“A maior parte da população, provavelmente, não necessita de as usar, mas as pessoas mais suscetíveis, como as mais idosas e imunodeprimidas mais vulneráveis, com base nestes números mais recentes, elas mesmas devem defender-se e proteger mais, usando a máscara”, afirma, lembrando, no entanto, que a sua utilização, atualmente, “baseia-se em critérios individuais”.