​Marcelo. O ano primeiro do Presidente-activista
28-12-2016 - 20:32
 • José Pedro Frazão

O Presidente da República é uma das personalidades políticas centrais de 2016. No Falar Claro da Renascença, Nuno Morais Sarmento e José Vera Jardim ensaiam uma leitura do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa até ao momento.

Veja também:


Morais Sarmento diz que a relação actual entre o Presidente da República e o primeiro-ministro é de um “enlevo” que, no futuro, “será a intensidade do desencontro a que assistiremos”.

O antigo ministro contrasta essa proximidade com uma “certa distância que sentimos fria com a oposição. Agora está a ficar gélida, mas é por causa de Dezembro”. Para o comentador social-democrata, o futuro trará uma inevitável alteração desta circunstância.

“Marcelo fez bem ao procurar contribuir dessa forma para a estabilidade política. Na minha opinião, passou a medida. Marcelo tende a ser excessivo e ele passou por excesso o alinhamento com o Governo”, critica Morais Sarmento, no programa Falar Claro da Renascença.

“Em primeiro lugar, porque não corresponde, necessariamente, a coisas que ele pensa sobre alguns dos temas que entretanto se foram tratando. Em segundo lugar, porque saiu de uma zona de reserva e defesa em que nós precisamos que o Presidente da República permaneça”, acrescenta Morais Sarmento.

Vera Jardim assinala que a forma como Marcelo Rebelo de Sousa exerce o seu mandato pode comportar riscos, para o próprio e para a relação com o Governo.

“Com um Presidente muito activo e activista da proximidade e da palavra, naturalmente corre alguns riscos. António Costa aparentemente vive bem com isso. Salvo o caso da Cornucópia, que foi um esforço de Marcelo para tentar salvar uma instituição importante no nosso pobre quadro cultural, não penso que haja problemas nessa matéria. Mas que há um risco, há”, analisa o militante socialista.

O “estilo de Marcelo” fica bem marcado em intervenções por escrito ou de viva voz sobre a Caixa Geral de Depósitos ou sobre a promulgação do Orçamento. “Não estávamos habituados a esse tipo de actuação do Presidente da República”, completa Vera Jardim.

Morais Sarmento insiste que Marcelo foi excessivo nalguma proximidade ao Governo. “Mas não tenho dúvida nenhuma que valeu a pena, pelo que de positivamente estruturante ele trouxe. Esta ideia de ele ser activista da palavra, não diria melhor. Ele tem-no sido. Acho que não há bela sem senão. E nós só conhecemos um limite de um automóvel novo até ultrapassar o limite. Aqui é um pouco assim. Marcelo está a pisar terreno novo, até para ele. Se é possível que ele o faça sem que tenhamos casos e acidentes? Não é”, remata o social-democrata.