Portugueses podem “deixar de se identificar com a luta” dos motoristas, alerta Marcelo
06-08-2019 - 16:33
 • João Pedro Barros

Presidente apela às negociações entre Governo, sindicatos e patrões e avisa os motoristas de que os “sacrifícios” exigidos à população podem ser “excessivos”.

Marcelo Rebelo de Sousa ressalvou desde o início que estava a generalizar e não a falar do caso concreto da greve dos motoristas, mas, como o próprio referiu em declarações aos jornalistas esta terça-feira, “toda a gente percebe” o que foi dito: o Presidente da República considera que o melhor caminho para evitar uma crise é que os dois sindicatos que fizeram pré-aviso de greve para esta segunda-feira voltem para a mesa das negociações.

“A ida para a greve deve ter presente que importa como ela é vista. Uma coisa é uma greve vista contra os patrões, outra uma greve contra os patrões, o Estado e um número grande de portugueses", afirmou o chefe de Estado. "Se de repente a sociedade portuguesa se sentir refém da luta, deixa de se identificar com a luta. E aqueles que prosseguem fins legítimos e justos passam a ter contra si não o patronato ou o Estado mas a generalidade ou um número elevado de portugueses.”

Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de se mostrar conhecedor da luta dos motoristas, relembrando a viagem Lisboa-Porto que fez a bordo de um camião. “Houve uma série de queixas a que prestei atenção e fiquei sensibilizado para a questão das cargas-descargas e das condições laborais, fins de semana e limites de idade”, ressalvou. Mas, para a luta ser eficaz, não basta que as reivindicações sejam “legítimas”.

“Isso obriga a uma ponderação permanente entre o que se quer realizar e os sacrifícios impostos a outros membros da comunidade. Todas as greves impõem sacrifícios, o problema está na ponderação”, notou.

Apesar de se refugiar numa hipotética generalização, o Presidente da República foi até bem específico quando se referiu a uma "outra organização sindical" que está a “obter vantagens” com uma negociação: neste caso, a FECTRANS, sindicato afecto à CGTP e que não participa na greve.

“Em geral, quem promove lutas laborais deve sempre procurar o melhor meio para chegar ao objetivo. E até ser esgotado, esse meio deve ser o diálogo, mediação ou tentativa de uma convergência de ponto de vista”, sublinhou.