Os trabalhadores das bilheteiras e revisores da CP cumprem uma greve de três dias, entre domingo e terça-feira, tendo sido decretados serviços mínimos. Contudo, a Renascença apurou que nem todos estarão a ser cumpridos.
O comboio que deveria ter partido do Marco de Canavezes às 8h14 em direção ao Porto, fazia parte dos serviços mínimos, mas não chegou a partir.
Beatriz Pinto conta que os passageiros já se encontravam dentro da composição, quando foram informados que “o revisor não tinha comparecido ao trabalho” e que, por isso, não seguiram viagem.
A passageira refere que “um funcionário da CP” tinha garantido, pouco antes, que “o comboio das 8h14 iria arrancar.” Beatriz deveria ter entrado ao serviço no Porto, entre as 9h45 e as 10h00, mas, como só conseguiu comboio às 9h40, não sabe a que horas vai chegar.
Um contratempo que “não estava à espera” e que apanhou também de surpresa “um grupo de professoras que teriam que ir dar aulas e já tiveram que faltar”, refere.
Estes trabalhadores iniciaram no domingo uma greve nacional de três dias, até terça-feira, que a empresa admite que possa causar "fortes perturbações" na circulação de comboios a nível nacional.
Para esta greve foram decretados serviços mínimos que abrangem a realização de cerca de 25% de comboios.
"Adesão massiva" à greve
De acordo com o Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante, o segundo dia de greve dos trabalhadores das bilheteiras e revisores da CP está a ter “uma adesão massiva”.
“Os números são superiores aos de ontem [domingo], acima dos 90%, praticamente só se estão a realizar os comboios de serviços mínimos, o que demonstra o grande descontentamento dos trabalhadores”, confirmou à Renascença Luís Bravo.
Os trabalhadores contestam a “proposta de regulamento de carreiras que destrói postos de trabalho e reduz a segurança das circulações”.
O presidente do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante afirma que os trabalhadores não aceitam que “um conselho de administração aprove um orçamento em que tenha apenas previsão de aumento salarial para os trabalhadores que estão a transitar da EMEF para a CP e exclua todos os outros”.
Com isto, reitera Luís Bravo, “transmite uma mensagem de que para este conselho de administração só os trabalhadores das oficinas importam e todos os outros não importam para nada”.
Os trabalhadores reclamam ainda a “melhoria do salário base” e a “reposição das perdas salariais sofridas pelos ferroviários operacionais que foram contagiados pela pandemia provocada pela Covid-19, bem como pelos que tiveram de cumprir confinamento profilático por estarem em contacto com colegas infetados”.
Já sobre a não realização de todos os serviços mínimos, como aconteceu com o comboio das 8h14, do Marco de Canavezes, Luís Bravo culpa a CP.
“A CP rejeitou criar as condições para que esses trabalhadores não cumpram os serviços mínimos”, acusa Luís Bravo, acrescentando que há “trabalhadores a começar de Lisboa com serviços mínimos, a começar em Faro, trabalhadores do Entroncamento com serviço mínimo a começar em Lisboa”.
De acordo com o sindicalista, “a empresa tem que criar as condições para que os serviços mínimos se concretizem, há essas impossibilidades que a empresa não resolve, não criou as condições propositadamente para pôr o ónus e, mais uma vez, estar aqui a criar pressão sobre os trabalhadores”.