Como é sabido, António Costa e Pedro Sánchez convenceram Emmanuel Macron a aceitar um gasoduto que irá de Portugal a França, mas que já não passa pelos Pirinéus. Esse gasoduto servirá, sobretudo, para transportar hidrogénio verde; temporariamente poderá transportar gás natural.
O governo espanhol estima que a construção do último troço do gasoduto (Barcelona-Marselha, pelo mar) levará entre cinco e sete anos. Ou seja, o novo gasoduto não adiantará coisa alguma para a atual crise energética.
E o transporte de hidrogénio obrigará a reconstruir o gasoduto que já existe. Dizem os peritos que o hidrogénio exige tubagens especiais.
As estimativas governamentais sobre a adaptação do gasoduto existente em território nacional para o transporte de hidrogénio verde aumentaram muito de 2020 para hoje. O Governo estima agora que o custo da adaptação dessa infraestrutura venha a atingir um valor entre os 300 e os 350 milhões de euros.
Por outro lado, não ficou totalmente claro se a França deixou cair o seu feroz protecionismo à eletricidade gerada nas suas centrais nucleares. O comunicado do encontro António Costa, Pedro Sánchez e Emmanuel Macron diz que os três países acordaram acelerar as interconexões elétricas, em especial a que se está a construir no golfo de Biscaia. É certo que António Costa afirmou que foi ultrapassado um “bloqueio histórico” relativamente às interconexões ibéricas para gás e eletricidade. Mas o diabo poderá estar nos pormenores...
Este ponto é fundamental para os interesses de Portugal, que aspira a exportar para a Europa eletricidade produzida por fontes renováveis (eólicas e solares). Até agora a França tem sido o grande obstáculo.
Não se sabe quem pagará o quê deste gasoduto, embora todos esperem que fundos europeus financiem. pelo menos. uma parte do investimento. No encontro entre os três países previsto para Alicante a 8 e 9 de Dezembro deverá saber-se mais sobre o dinheiro necessário a este projeto.
O acordo tripartido é, basicamente, uma aposta no hidrogénio verde. O entusiasmo com a perspetiva de exportar para a Europa gás natural a partir de Sines parece ter esmorecido. Acontece que a Espanha tem vários portos modernos, nos quais poderá receber grandes navios com gás natural liquefeito, que depois de gasificado de novo será exportado para a UE por gasoduto. Espanha também pode manter liquefeito o gás e descarregá-lo para navios mais pequenos destinados a portos europeus. Não é certo que Sines tenha condições para vencer a competição com os portos espanhóis.