O Presidente da República defendeu, esta terça-feira, que deve haver mais jovens em lugares de decisão política e apelou ao combate a propostas racistas e egoístas e à ideia de uma União Europeia fortaleza, fechada ao mundo.
Marcelo Rebelo de Sousa discursava na sessão de encerramento da "Conferência Democracia: Juventude em Ação", na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, perante uma plateia constituída maioritariamente por jovens.
"É na vossa idade que se muda o mundo. Eu espero que os mais velhinhos percebam que é tempo de cederem muitos, muitos lugares aos mais novos. Se querem renovar a democracia portuguesa e democracias europeias, não há nada como começarem por renovar aqueles que têm a palavra decisiva", declarou, no fim do seu discurso.
O chefe de Estado acrescentou que "também isso é um grande desafio para a Europa no ano que vem", referindo-se às eleições de junho de 2024 para o Parlamento Europeu, e concluiu: "Está nas vossas mãos. Agora vamos a isso. Viva a Europa democrática, mas social e solidária".
Marcelo Rebelo de Sousa abordou o tema da participação dos jovens na política logo no início da sua intervenção, que durou cerca de meia hora, considerando que "um dos problemas das democracias, e nelas das democracias europeias, é que há poucos jovens em lugares de decisão na política nacional e europeia".
"Assim envelhecem os regimes", advertiu.
O Presidente da República criticou que perante alguém com 30 ou 40 anos se diga que "é muito jovem" e defendeu que este "é um problema de mentalidade, é um problema de cultura cívica e é um problema fundamental para construir uma Europa e uma democracia mais fortes".
Mais à frente, o chefe de Estado perguntou aos jovens se "a Europa deve fechar-se ou deve abrir-se ao mundo", e deu a resposta, manifestando-se contra aqueles que entendem que "deve ser xenófoba, ou deve ser racista, ou deve ser egoísta".
"Foi para isso que se fez a Europa? Não, fez-se para o contrário", argumentou.
Marcelo Rebelo de Sousa alertou que "no debate das eleições europeias vai aparecer quem venha com propostas egoístas: ignorar o mundo, fechar a Europa, proteger a Europa, blindar a Europa, visões securitárias, não abrir, não dialogar, deixar para depois a solidariedade".
"Não pode ser", afirmou. "Tem de procurar a paz, tem de procurar o diálogo, tem de combater as xenofobias, tem de combater as desigualdades e as injustiças, tem de promover o desenvolvimento. Tem de olhar, vocês falaram nisso, para os problemas dos mais jovens, onde não há crescimento", contrapôs.
"Temos de evitar o risco do egoísmo", reforçou.
O Presidente da República associou a participação política dos mais jovens ao fortalecimento das democracias no espaço da União Europeia, à qual atribuiu uma responsabilidade especial no plano global, e considerou que também as mulheres e os imigrantes não têm a participação correspondente ao seu peso na sociedade.
No seu entender, o défice de participação destes segmentos da população "cria vazios" que podem ser preenchidos com "propostas que não têm a ver com o processo europeu, que vêm de trás, porque são outras, e começam a ganhar o seu peso, progressivamente, nas sociedades europeias".
À saída, Marcelo Rebelo de Sousa reafirmou esta posição e disse que, 50 anos depois do 25 de Abril, "renovar a democracia passa também por renovar dando a esses setores, a essas áreas, a essas realidades sociais uma representação".
A comunicação social questionou-o uma vez mais sobre o caso das gémeas residentes no Brasil com atrofia muscular espinhal que vieram a Portugal receber um medicamento com um custo total de quatro milhões de euros, mas o chefe de Estado afirmou não ter "nada a acrescentar" às declarações que fez na segunda-feira.
Interrogado se já falou com o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, sobre a intervenção dele neste caso, respondeu: "Eu o que disse, disse. Se eu na altura não disse que tinha falado, é porque não falei".