No arranque da campanha eleitoral para as Legislativas, o patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, assume estar preocupado com os portugueses que estão “cansados com tantas dificuldades”.
“É de esperança que necessitamos. A esperança é a força que nos mobiliza para começarmos a construir um Portugal capaz de acolher e reter os jovens, capaz de conceder aos trabalhadores salários dignos, capaz de não ver crescer redes de pobreza”, disse o prelado à margem do Faith’s Night Out, evento que decorreu este sábado, em Lisboa, e que reuniu oito testemunhos sobre fé e esperança.
Questionado sobre o segundo aniversário da guerra na Ucrânia, D. Rui Valério descreveu a situação como uma “vergonha”. “Como é possível que [este conflito aconteça] num continente que viu nascer dentro de si, à sombra do cristianismo, o sentido da dignidade do ser humano, do respeito pela vida? Como é possível que, em pleno século XXI, tenhamos vindo a assistir sistematicamente à morte de inocentes, à destruição de escolas e hospitais, inclusivamente à morte bárbara de doentes e civis? São muitas questões e poucas respostas”, disse à Renascença.
Ainda a propósito do conflito na Ucrânia, D. Rui Valério enfatizou também o papel da esperança. “Acredito profundamente que, uma vez mais, não estaremos sozinhos a combater um inimigo atroz, que já deu provas mais do que evidentes de que não tem qualquer noção do que é o respeito do outro. Deus, como ao longo de toda a história, não nos vai deixar sozinhos”, sublinhou, dizendo que estará “sempre ao lado daqueles que sofrem, ao lado da Ucrânia."
No evento organizado pelas Equipas de Jovens de Nossa Senhora, D. Rui Valério, o primeiro de oito oradores da noite, sublinhou que “o mundo novo que esperamos começa a acontecer dentro de cada um de nós” e pediu que “cada um se deixe transformar pela força de Deus que é força de transformação do mundo”.
Ao longo da sua intervenção, o Patriarca frisou que “nada como a esperança e a salvação são tão cristãos”.
A noite no Centro de Congressos de Lisboa ficou, também, marcada pelo testemunho de Norina Sohail, refugiada afegã que partilhou a sua história de luta pelo acesso à educação. Aos seis anos começou a trabalhar na tecelagem e só aos 14 conseguiu entrar na escola. Tornou-se ativista, e com a ascensão dos talibãs ao poder no Afeganistão, veio para Portugal. Apesar de ter começado a trabalhar na agricultura, não desistiu de prosseguir estudos. Hoje é aluna de Comunicação na Universidade Católica e espera um dia tornar-se jornalista.
“Se nos apoiarmos uns aos outros, a vida é mais bonita. Estive rodeada de pessoas boas”, contou diante de um auditório composto por cerca de mil pessoas. “Espero que todos possam sonhar. Dá-nos esperança.”
À família Diniz, também oradora no evento, coube partilhar o impacto da adoção do seu filho mais novo, um menino com 99% de incapacidade. “Ao contrário do que se seria a expectativa, nestes 11 anos em nossa casa o Bernardo tem sido fonte de esperança para nós e para tantas pessoas nos sítios por onde passa”, disse Rui Diniz, que é presidente da comissão executiva da CUF.
O responsável partilhou ainda que a chegada do filho mais novo fez com que a família se envolvesse em iniciativas de promoção da integração das pessoas com deficiência, como o “Inclusive Community Forum”, dinamizado pela Nova SBE. “Todos somos chamados a acolher na comunidade pessoas com deficiência”, sublinhou. Carmo Diniz, a mãe, é diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa.
Noutra intervenção, a psicóloga Margarida Cordo afirmou que “estamos num tempo de exterioridade, de forma sem conteúdo” e convidou o auditório a “olhar para dentro”. “Sem esperança e sem propósito, viver não tem sentido. O homem não sobrevive sem esperança”, disse, acrescentando que “a esperança é a vacina contra o desanimo”.
A especialista alertou ainda para perigos da inteligência artificial, que, “quando desregulada nos rouba a esperança”. Quase no final da exposição, Margarida Cordo lembrou que “só fazendo a nossa parte podemos esperar que o futuro seja melhor”. “Isto é a confiança, a esperança”, destacou.
A edição 2024 do Faith’s Night Out contou ainda com a atriz Ana Brito e Cunha que, depois de anos mais afastada da Igreja, fez o crisma aos 30 anos e a partir daí começou a aprofundar a relação com Deus. “É fundamental treinar o coração para o bem”, disse, depois de ter partilhado uma oração escrita por si.
[notícia atualizada às 8h10 de 25 de fevereiro]