O bastonário da Ordem dos Médicos considera que a única maneira de evitar o que aconteceu na primeira fase da greve cirúrgica dos enfermeiros, com o adiamento de muitas cirurgias, é alargar os serviços mínimos.
“Houve vários doentes prioritários que não foram operados no momento em que estava a acontecer a greve e alguns deles ainda estão a ser operados neste momento”, lembra Miguel Guimarães.
“A questão base é exatamente esta: é que os direitos que as pessoas têm – e muito bem, sejam quais forem os profissionais – têm que respeitar algumas regras, como seja estes doentes que têm situações mais graves terem de ter uma alternativa para poderem ser tratados”, afirma.
“E esta alternativa pode ser garantida pelos serviços mínimos, que têm de ser mais alargados, ou de outra forma que a senhora ministra entenda que seja a mais conveniente”, conclui.
Os enfermeiros iniciaram esta quinta-feira uma nova greve cirúrgica. Até dia 7 de fevereiro, a paralisação decorre em sete centros hospitalares e a partir de dia 8 passa a abarcar mais três, num total de dez.
Na quarta-feira à noite, a ministra Marta Temido admitiu recorrer à justiça para travar a greve, embora sem especificar como.
"Em última instância, esta greve, que já enfrentámos antes e que nos preparamos para enfrentar outra vez, convoca para uma reflexão sobre questões éticas, deontológicas e sobre o exercício do direito à greve", observou, ressalvando que não está em causa a legitimidade das reivindicações, referiu à RTP3.
Não é “só porque lhes apetece”
Já esta quinta-feira manhã, a plataforma sindical que convocou a segunda greve nos blocos cirúrgicos insistiu que o protesto não põe em causa a segurança dos doentes.
“Estamos a fazer o que nos compete e o que foi decretado pelo tribunal arbitral. Por isso, não temos qualquer receio das implicações que daí possam advir, uma vez que, tal como aconteceu da outra vez, todos os serviços mínimos serão assegurados: cirurgias oncológicas, cirurgias urgentes, cirurgias diferidas, sem nunca colocar em causa a vida do doente. Serão apenas canceladas cirurgia programadas”, garante à Renascença Sara Rego, do Sindicato Democrático dos Enfermeiros.
A sindicalista reconhece que a paralisação traz constrangimentos, mas acusa o Governo de não ir ao encontro das reivindicações dos enfermeiros.
“A tutela, apesar de dizer que tentou encontrar formas de aproximação com os enfermeiros, os enfermeiros não reconhecem isso e foi por isso que fomos para greve. Os enfermeiros não querem estar em greve só porque lhes apetece”, sublinha.
Quanto aos efeitos para os doentes, Sara Rego diz que “o Governo tem permitido que cirurgias sejam adiadas ou não marcadas por dois, três anos com listas de espera extensas” e não será agora, “por um mês de greve dos enfermeiros, que a diferença vai ser assim tão grande”.
Na primeira fase da greve foram canceladas mais de sete mil cirurgias.
“Profundamente injusto” para os doentes, dizem administradores
Os administradores hospitalares classificam a greve dos enfermeiros e blocos operatórios como "profundamente injusta para com os doentes" e voltam a apelar ao Ministério da Saúde que divulgue todos os dias o número de doentes graves com cirurgias adiadas.
Na opinião do presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, “ficou claro”, na primeira greve “que houve efeitos sobre a saúde individual dos doentes".
Chama ainda a atenção para o facto de poder haver pessoas que viram a sua cirurgia adiada durante a primeira greve e voltarão a ser afetadas na segunda, até porque há hospitais onde a greve se repete.
"A grande questão é que a greve tem efeito sobre doentes que não têm alternativas. Não têm seguro ou subsistema e não podem recorrer a privados. É uma greve profundamente injusta para os doentes", sublinha ainda Alexandre Lourenço em declarações à agência Lusa.
A greve que começou esta quinta-feira foi convocada pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) e pela Associação Sindical dos Enfermeiros Portugueses (ASPE).
São João e Centro Hospitalar do Porto, Centro de Entre Douro e Vouga, Gaia/Espinho, Tondela/Viseu, Braga e Garcia de Orta serão os centros hospitalares afetados.
A partir de dia 8 e até 28 de fevereiro, juntam-se o Centro Hospitalar de Coimbra, o Centro Hospitalar Lisboa Norte e o Centro Hospitalar de Setúbal.