Dirce Noronha, presidente da Associação de Moradores do Bairro da Jamaica, disse à Renascença esta quinta-feira que os confrontos do último fim-de-semana naquele bairro “nada têm a ver com o racismo”, mas confirma que “houve uso excessivo de poder por parte dos policiais”.
A PSP deteve um suspeito depois do incidente de domingo e um dos agentes da PSP teve de ser assistido no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Dirce afasta de todo a possibilidade de os agentes da esquadra da Cruz de Pau, Seixal, terem atuado motivados pela cor da pele. “Eles são polícias, têm regras de conduta, mas são seres humanos. Houve agressões por parte das pessoas e eles reagiram”, reconhece.
A agressão em causa, explica, baseou-se no “arremesso de pedras” dos moradores à polícia, ação à qual os agentes reagiram.
Apesar disso, Dirce não deixa de criticar o uso excessivo de força pelas autoridades. “Até bateram nos pais. Mas não posso pegar nisso e falar de um ato racista. Pode ser o calor do momento. Foram agredidos e agrediram. Dizer que isso foi um ato racial estou contra”, insiste.
Não participam em manifestações
Para sexta-feira está marcada uma manifestação em frente à Câmara do Seixal, mas a Associação de Moradores do Bairro da Jamaica demarca-se da iniciativa.
Dirce também diz que o que se passou na Avenida da Liberdade na segunda-feira, um dia depois dos confrontos no seu bairro, nada tem a ver com os moradores do bairro do Seixal. Esses, afirma, “estão fartos do uso do nome do bairro” para justificar atos com os quais não concordam.
“Não foram as pessoas do bairro da Jamaica que marcaram esta manifestação, a família com quem se deu os acontecimentos também já mostrou desagrado e não participará”, explica Dirce, justificando que o evento apenas “vai gerar mais discordância”.
Dirce diz que ela e os moradores do bairro estão muito tristes com a onda de violência que brotou com os eventos de domingo.
“Estamos mesmo contra toda esta violência, e estamos tristes. Está lá sempre o nosso nome, bairro da Jamaica, bairro da Jamaica. A maioria das pessoas aqui são pacificas”, salienta.
A presidente da Associação de Moradores do Bairro da Jamaica teme que estes eventos prejudiquem o realojamento dos moradores do bairro, um processo que começou há um mês e que terminará em 2022, num investimento global de 15 milhões de euros.
“As pessoas pensam assim: 'Estamos a ajudar para dar uma casa e ainda nos chamam de racistas e tratam mal'”, explica.
Dirce termina com um apelo à serenidade. “Não podemos generalizar os comportamentos. Não é por causa de uma situação isolada que podemos chamar racistas.”