O primeiro-ministro garantiu hoje que o percurso português do gasoduto para o centro da Europa já está definido, estando os "trabalhos muito avançados", e assegurou que a Península Ibérica pode substituir "grande parte" do gás importado da Rússia.
"Nós temos os trabalhos muito avançados: são cerca de, creio, 160 quilómetros entre Celorico da Beira e o ponto da fronteira onde amarramos com a rede espanhola", sublinhou António Costa em declarações aos jornalistas à margem de uma visita à creche Luís Madureira, na Amadora (Lisboa), após ter sido questionado sobre as declarações feitas na quinta-feira pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, que apelou à construção de um gasoduto entre Portugal e o centro da Europa.
Costa afirmou que, no que se refere ao percurso português desse gasoduto, "houve dúvidas sobre o traçado" devido ao impacto ambiental que poderia ter, designadamente a travessia do Vale do Douro, que "é uma travessia muito sensível".
"Há um traçado que agora está definido, cuidadoso, que protege os valores ambientais, que importa proteger também no Vale do Douro. Portanto, do nosso lado as coisas têm vindo a avançar, da Espanha também", indicou.
O chefe do executivo recordou que "a existência desta interconexão da Península Ibérica com o resto da Europa é uma ambição antiga" de Portugal, que tem sido confrontada "com uma dificuldade, que são as limitações ambientais que a França tem invocado sobre o impacto do gasoduto na travessia dos Pirinéus". .
Costa sublinhou que essa resistência francesa tem "atrasado bastante o problema", mas referiu que a Comissão Europeia já está a ponderar um novo trajeto que crie interconexões energéticas entre a Península Ibérica e o resto da Europa sem passar pela França.
"A Comissão Europeia já colocou em cima da mesa a possibilidade de, se não for possível ultrapassar o bloqueio com a França, o "pipeline" possa ter uma ligação direta de Espanha para Itália, de forma a chegar ao centro da Europa por via de Itália e não por via de França", frisou. .
"Está-se a trabalhar nesse sentido, há trabalhos técnicos nesse sentido, a decisão está tomada", acrescentou.
Sobre as palavras de Olaf Scholz, Costa considerou que a declaração do chanceler alemão foi "muito importante, porque reforça a pressão para que as instituições europeias desbloqueiem de uma vez por todas essa situação".
"É um tema que não interessa só exclusivamente à Alemanha, interessa muito à Polónia, interessa muito à Hungria e interessa muito a todos os países que, até agora, tinham uma enorme dependência da energia fornecida pela Rússia e que podem encontrar, a partir da Península Ibérica, um enorme potencial de fornecimento de energia", vincou.
O chefe do executivo afirmou que, apesar de nem Portugal nem Espanha serem produtores de gás natural, podem servir de "interfaces e porta de entrada, seja do gás natural que provém designadamente do Atlântico -- dos Estados Unidos, da Nigéria, da Trinidad e Tobago -- (...) amarrando em Sines e, a partir daí, seguindo em "pipeline"".
"Portanto, em conjunto, a Península Ibérica tem capacidade para substituir grande parte do gás que hoje a Europa Central importa da Rússia", sublinhou.
Costa destacou que "finalmente a Europa ganhou consciência que tem de ser autónoma do ponto de vista energético da Rússia e que, na construção dessa autonomia, a Península Ibérica, designadamente Portugal, têm um papel extraordinário que podem desempenhar". .
"No futuro, com a produção dos seus próprios gases -- através de hidrogénio verde -, para já através de serem a plataforma logística para emissão de gás natural produzido noutros países", sublinhou.
No entanto, uma vez que o gasoduto "não está construído amanhã", Costa referiu que, até à sua concretização, Portugal já transmitiu à Comissão Europeia, mas também ao Governo alemão e polaco, a disponibilidade para utilizar o Porto de Sines "como uma plataforma logística que acelere a distribuição de gás natural por via marítima para os portos do norte e do centro da Europa".
"O porto de Sines é um porto de águas profundas, que tem capacidade de acolher grandes metaneiros (...) e fazer a trasfega de grandes metaneiros para metaneiros de média e pequena dimensão que existem na Europa -- a Noruega tem vários -- que têm uma grande vantagem que é que, como os portos do norte da Europa estão muito congestionados, se trabalharem com metaneiros de média e pequena dimensão, isso agiliza a operação logística", indicou.