Sem Igreja, não havia Europa. "Possivelmente, seria uma península da Ásia”
10-05-2024 - 07:33
 • João Mira Godinho

Contributo da Igreja para a unidade cultural do ‘Velho Continente’ destacado por D. Manuel Clemente, numa conferência, em Monte Gordo, para assinalar o Dia da Europa.

A Europa existiria sem a Igreja? “Não. Existiria outra coisa qualquer, mas a Europa não. Possivelmente, seria mais uma península da Ásia, que é aquilo que até olhando para o mapa parece. Mas não existiria a Europa, no sentido continental e cultural, sem a missionação do século V ao século X."

A resposta é de D. Manuel Clemente que, na noite desta quinta feira, Dia da Europa, esteve em Monte Gordo, numa conferência sobre "O Contributo da Igreja para a Europa: Passado, Presente e Futuro", organizada pela paróquia local.

Depois do fim do Império Romano, foram monges, oriundos de Roma, Constantinopla (atual Istambul) e Irlanda que, ao longo de cinco séculos, converteram ao Cristianismo os povos bárbaros que ocuparam a área a que hoje chamamos Europa. E, dessa forma, criaram uma unidade cultural entre os diversos povos, explicou o patriarca emérito de Lisboa.

Mas o contributo da Igreja para a Europa não se esgotou na unificação do continente, continuou D. Clemente, na verdadeira aula de história que deu no Algarve, em que lembrou que foram “três homens católicos” que lançaram as fundações para o que hoje é a União Europeia. O francês Robert Schuman, o alemão Konrad Hadenauer e o italiano Alcide de Degaspri juntaram os três países na Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) - da qual também foram fundadores a Holanda (hoje em dia Países Baixos), Bélgica e Luxemburgo. A CECA foi juntando nações, até se tornar, primeiro, na CEE e, atualmente, na UE.

Três homens que tinham uma visão para a Europa mas, igualmente, “os pés bem assentes na terra”, destacou o cardeal, duas características a ter em conta nas próximas eleições europeias, que se realizam a 9 de junho: “É exatamente na conjugação destes dois aspetos que a Europa pode prosseguir. É isto que está em causa, é nós escolhermos, entre os que se candidatam, aqueles que verdadeiramente acreditam no projeto europeu”.

E quando a guerra está de volta à Europa, na Ucrânia, D. Manuel Clemente elogia o papel do Papa Francisco, à semelhança do que fizeram os seus antecessores no passado: “Ele tem reeditado aquilo que, antes e durante a I Guerra Mundial o Papa Bento XV e, depois, durante a II Guerra Mundial o Papa Pio XII, também fizeram. No sentido de procurar que as questões que existem, e elas existem, sejam tratadas à mesa e não à bala”. O patriarca emérito espera é que, perante o proliferar de conflitos pelo mundo, o Papa Francisco seja “atendido, até mais do que os seus antecessores”.

E assim se percebe que se, no passado, a Igreja muito contribuiu para a Europa, hoje em dia e, no futuro, esse papel continua a ser essencial para preservar a unidade do ‘Velho Continente’ em torno do que se chama de ‘Espírito Europeu’.