Parece que só para o fim de Outubro a Itália terá um novo governo. Mas já se podem alinhavar algumas previsões quanto às políticas a seguir por Georgia Meloni.
Reparando em quem se apressou a saudar entusiasticamente a vitória eleitoral de Meloni – governantes da Hungria e da Polónia, M. Le Pen, etc. - dir-se-ia que a Itália caminha para uma autocracia. Mas Meloni, que já foi ministra, afirma querer trabalhar com a Comissão Europeia e ter ministros que não suscitem reações negativas na UE.
É possível que Meloni siga uma estratégia de moderação, como acontece com Le Pen, para manter o seu apoio eleitoral. E Meloni não ignora que a dívida do seu país ultrapassa 150% do PIB e que precisa do apoio de Bruxelas para evitar uma crise financeira grave.
A hostilidade à imigração une os três partidos da futura coligação chefiada por G. Meloni. Nas relações com a Rússia Salvini e Berlusconi são autênticos amigos de Putin, ao contrário de Meloni. O facto de o partido da chefe do governo ter obtido 26% dos votos, contra apenas 9% (Salvini) e 8% (Berlusconi) permite esperar que o novo governo não altere a linha seguida até aqui por Itália nesta matéria essencial de política externa – uma linha atlantista, de apoio à Ucrânia.
Claro que é difícil esquecer as raízes neo-fascistas do percurso político de Meloni, que no passado tomou posições de direita radical. Mais preocupante se afigura ser o facto de Meloni ter sido aconselhada há anos por Steve Bannon, um ideólogo que levou Trump ao poder e que hoje apoia a mentira de a eleição presidencial americana de 2020 ter sido fraudulenta.
Steve Bannon em 2018 virou-se para a Europa e tentou unir os partidos radicais europeus para mudar a UE por dentro, através do Parlamento Europeu. Mas as eleições europeias de 2019 não correram de feição a S. Bannon, que voltou para os EUA, onde enfrenta várias acusações criminais.
Bem mais do que a sombra de Mussolini, o grande perigo para as democracias liberais é Trump, para quem, ou é declarado vencedor ou acusa de fraude a eleição. Uma prática anti-democrática, que pode vir a ser seguida por Bolsonaro no próximo domingo.