Marcelo elogia investimento na educação bilingue das crianças
11-06-2022 - 12:38
 • António Fernandes (correspondente no Reino Unido), Lusa

"Ter este reconhecimento do senhor Presidente é um momento único para nós", diz diretora da escola anglo-portuguesa que o Presidente da República visitou.

O Presidente da República acredita que as crianças portuguesas a crescer no Reino Unido vão ser muito importantes para Portugal. Foi uma das mensagens deixadas durante a visita à Escola Anglo-Portuguesa de Londres, neste sábado de manhã.

Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido com alegria por parte da comunidade escolar.

“Ter este reconhecimento do senhor Presidente, para nós, é um momento único. E eles aqui têm um sítio onde veem que as duas línguas são valorizadas e optam por falar várias vezes em Português ou em Inglês, escolhem. Mas, como a língua é valorizada, têm um propósito para falar e mesmo o discurso do senhor Presidente nas duas línguas só faz com que eles queiram continuar a ser bilingues”, afirma à Renascença Marta Correia, diretora da escola.

O Presidente da República elogiou o ensino bilíngue das crianças lusófonas no Reino Unido e considerou que essa é a via indispensável para serem "importantes no futuro".

Hino com mão no peito

Depois do atraso de ontem na chegada ao encontro com a comunidade, causada por problemas técnicos com o avião que transportava o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa chegou à Escola Anglo-Portuguesa com pontualidade britânica.

Enquanto Marcelo fazia uma pequena visita pelas instalações, os 42 pequenos alunos esperavam em formação, no pátio da escola, prontos para uma surpresa que tinham preparado. O Presidente chegou e rapidamente procedeu ao descerramento da placa.

Os alunos cantaram então o hino, de mãos no peito, e timidamente acompanhados pelos pais que estavam a assistir. Depois dos aplausos, tempo para mais uma música de boas-vindas, com direito a coreografia, cantada nas duas línguas: português e inglês.

Se num verso cantavam “Bem-vindos à nossa escola”, no seguinte ouvia-se “Welcome to our school”. Não havia forma mais fácil de mostrar que a escola está a funcionar, para deleite de pais e professores.

Num curto discurso, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu aos pais e professores pelo trabalho diário que fazem a ensinar as crianças e a defender a língua portuguesa. Disse também aos alunos que “ainda vão ser muito importantes no futuro de Portugal”.

“Olá!”

Começou então um período de convívio, com muitas fotos e muita brincadeira, com crianças a correr à volta dos jornalistas e ministros.


Numa dessas correrias, Mia parou ao lado da Renascença. “Olá”, disse prontamente. Mia entrou na escola em setembro de 2020, quando escola abriu. Do que gosta mais na escola? “De brincar”.

Mia disse ainda que preferia o Português ao Inglês. Mas que diferença prática se sente desde que Mia entrou na escola? Uma pergunta para Ana, mãe de Mia, que já vive há 11 anos no Reino Unido, onde é professora universitária.

“Até entrar para a escola, a Mia entendia tudo, mas respondia em inglês”. Ao fim de um ano de escola, isso mudou e “começou a falar fluentemente em Inglês, se visse que a outra pessoa falava em inglês, e fluentemente em Português quando alguém falava português”.

A abertura da escola, não só dá competências linguísticas a Mia, como a prepara para um futuro que passará por Portugal – isto, porque Ana pretende para voltar a Portugal e assim “a Mia teve oportunidade de estudar ambos os currículos”.

Ana acredita que, num “mundo global, este currículo bilingue será uma vantagem enorme para o futuro das crianças”.

Sebastian vê o gravador na mão e fica curioso. Pede à mãe, Ediyta, para investigar. Quer falar também, mas em Inglês. É que Sebastian tem um desafio acrescentado: é filho de mãe polaca, pai português e vive em Inglaterra. São três “bolas linguísticas” que tenta manter no ar ao mesmo tempo.

Disse que achava que falava mais Português desde que está na escola, mas que só às vezes percebe o pai quando lhe fala nessa língua. Apesar da timidez linguística, a mãe diz que estudar numa escola bilingue é uma “oportunidade incrível” e que já se notam diferenças.

Mesmo que Sebastian se agarre ao Inglês para a entrevista, Edyta garante que tem maior compreensão de Português desde que entrou na escola e que já notou que, “às vezes, ele já fala Português sem lhe pedirmos e já está a escrever em Português”.

A liderar todo este processo de aprendizagem está Marta Correia, a diretora da escola. Também ela cresceu no Reino Unido, onde vive desde os 10 anos. No seu caso, “teve sorte” porque ambos os pais falavam com ela diariamente em Português e foi também estudante do Instituto Camões. Mas afirma que é uma “diferença enorme, porque estas crianças têm aulas de Português diariamente” e isso torná-los-á realmente bilingues, ao nível oral e escrito.

A visita de Marcelo Rebelo de Sousa é um “momento único”, que reconhece o “bom trabalho que tentamos fazer todos os dias”. Na escola, os alunos sentem que as duas línguas são valorizadas e mesmo o facto do Presidente lhes ter falado em Português e Inglês para eles vai ser um incentivo para quererem continuar a ser bilingues.

E como é que se mantém 42 crianças paradas à espera? “Chama-se código de condução de calma e, se toda a gente aderir ao código calmo, as crianças também aderem.”

Ao fundo, os alunos repetiam o hino, entusiasmados com o sucesso da primeira interpretação. De selfie em selfie, Marcelo continua o seu percurso em Londres.

A visita de Marcelo Rebelo de Sousa acontece no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, tendo o Presidente estado acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo.

A Escola Anglo-Portuguesa de Londres é a primeira com currículo bilingue (Português e Inglês) no Reino Unido e foi aprovada em 2016 pelo Governo britânico, que financia a aquisição do edifício e o funcionamento. Faz parte da rede pública britânica e a frequência é gratuita e aberta a crianças de qualquer origem.

Neste momento, tem cerca de 40 crianças a frequentar o ensino pré-primário e o 1.º ano do Ensino Básico, algumas das quais com pais brasileiros. O objetivo é atingir os 420 alunos, com frequência até ao 6.º ano de escolaridade.

O projeto foi iniciado pela coordenadora do ensino de português do Camões IP no Reino Unido, Regina Duarte, que na sexta-feira foi condecorada com a Ordem de Instrução Pública pelo Presidente da República.

O Camões IP participa no Conselho de Administração da escola, oferece materiais educativos e colocou um professor de português a tempo inteiro.


[Notícia atualizada às 14h34 com a reportagem do correspondente da Renascença em Londres]