A Igreja das Filipinas desafiou publicamente o Presidente recém-eleito, Rodrigo Duterte, por uma vaga de assassinatos extrajudiciais que assolou o país desde que tomou posse.
Duterte, que durante o seu mandato como autarca de Manila era conhecido como “o castigador” foi eleito em grande parte devido às suas promessas de declarar guerra ao mundo do crime e do tráfego, mas existem suspeitas de que o está a fazer às margens da lei.
O Presidente defende uma política de “atirar a matar” sobre qualquer suspeito de ligação à droga, caso resista à detenção. Desde que tomou posse há registo de cerca de 800 assassinatos de alegados criminosos, com muitos corpos a serem encontrados de mãos atadas e abandonados em locais abandonados.
Numa recente homilia, lida em todas as igrejas da sua diocese, o arcebispo Socrates Villegas, da diocese de Lingayen-Dagupan e presidente da Conferência Episcopal, desafiou directamente o Presidente.
“Chegámos ao ponto em que já não me interessa o que me pode acontecer. Estou pronto a morrer. Uma parte de mim já morreu centenas de vezes, em cada uma das mortes a que assisti nestas últimas semanas. Que é mais uma morte para mim?... A barbárie não terá a última palavra. A razão prevalecerá. A humanidade vencerá”.
O arcebispo antecipa a reacção do Presidente, perguntando: “Vai-me matar uma e outra vez nas redes sociais por dizer isto?”
Villegas realça que “tanto os culpados como os inocentes são humanos. A humanidade em mim sangra cada vez que outro ser humano é morto. A humanidade em mim chora cada vez que vejo um pai ou uma criança de luto por um ente querido que morto num passeio ou atirado para uma berma de mãos atadas e com a boca tapada com fita adesiva. A humanidade em mim está de luto por seres humanos que não se importam de matar criminosos, pensando que os seus assassinatos irão diminuir o mal no mundo. Choro pelo assassino e pelo assassinado. Tornamo-nos menos humanos quando matamos os nossos irmãos”.
A desculpa do combate à droga não convence os bispos. “De uma geração de drogados vamo-nos tornar uma geração de assassinos de rua?”, pergunta Villegas.
A complacência de Duterte para com mortes extrajudiciais já vem de longe. Durante o seu mandato à frente da cidade de Manila, o actual Chefe de Estado tolerou ou encorajou mesmo o assassinato de cerca de mil alegados criminosos ligados ao mundo da droga, havendo suspeitas de estar envolvido pessoalmente num esquadrão de morte, segundo a revista “America”, dos jesuítas americanos.