O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou esta quarta-feira para que os Governos garantam o acesso equitativo à água e recordou o "orgulho" de assinar a Convenção de Albufeira como primeiro-ministro português.
Perante o plenário da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, na abertura da Conferência da Água 2023, Guterres indicou que quase três em cada quatro desastres naturais estão ligados à água; uma em cada quatro pessoas vive sem serviços de água geridos com segurança ou sem água potável; mais de 1,7 mil milhões de pessoas carecem de saneamento básico; 500 milhões de pessoas defecam a céu aberto; e três milhões de mulheres e meninas gastam horas todos os dias à procura de água.
“A água está em apuros. Estamos a drenar o sangue vital da humanidade através do consumo excessivo vampírico e uso insustentável, e evaporando-o através do aquecimento global. Quebramos o ciclo da água, destruímos ecossistemas e contaminamos as águas subterrâneas”, frisou o secretário-geral das Nações Unidas.
Perante este cenário, e apelando para a ação, António Guterres delineou quatro áreas para acelerar os resultados em relação à gestão hídrica.
Em primeiro lugar, o secretário-geral pediu aos Governos que desenvolvam e implementem planos que garantam o acesso equitativo à água para todos os cidadãos, mas de forma a que o precioso recurso seja preservado.
Apelou ainda para o trabalho entre países, através das fronteiras, para uma gestão conjunta da água e exortou todos os Estados-Membros da ONU a aderirem e implementarem a Convenção da Água da ONU.
“Uma das realizações de que mais me orgulho como primeiro-ministro de Portugal foi a assinatura da Convenção de Albufeira sobre a gestão da água com Espanha, há 25 anos. A Convenção ainda está em vigor hoje”, recordou.
Em segundo lugar, Guterres pediu que se invista em massa em sistemas de água e saneamento e apelou para que as instituições financeiras internacionais desenvolvam “formas criativas” de estender o financiamento e acelerar a redistribuição dos Direitos Especiais de Saque, e para que os bancos multilaterais de desenvolvimento continuem a expandir os seus portfolios em água e saneamento para apoiar os países com mais necessidades.
A terceira área apontada pelo líder da ONU é o investimento em tubagens resistentes a desastres, nas infraestruturas de distribuição de água e estações de tratamento de águas residuais.
“Não podemos administrar esta emergência do século XXI com infraestruturas de outra época. (…) E isso significa explorar novas parcerias público-privadas”, frisou.
Por último, Guterres defendeu uma abordagem às alterações climáticas, advogando que a ação climática e um futuro hídrico sustentável “são dois lados da mesma moeda”.
“Isto é mais do que uma conferência sobre a água. É sobre o mundo de hoje visto a partir da perspetiva do seu recurso mais importante. Esta conferência deve representar um salto quântico na capacidade dos Estados-Membros e da comunidade internacional de reconhecerem e agirem sobre a importância vital da água para o nosso mundo”, disse.
A partir de hoje e até sexta-feira, na Conferência da Água, a primeira do género desde 1977, a ONU procurará alcançar compromissos de todo o mundo para uma transformação radical na forma como a água é gerida.
Além das sessões plenárias, o encontro contará com diálogos sobre temas específicos como “Água e Saúde”, “Água e Desenvolvimento Sustentável” ou “Água e Mudanças Climáticas” e cerca de 550 eventos paralelos, tanto no complexo da ONU quanto em outras zonas de Nova Iorque.