Os aumentos salariais “devem ser negociados setor por setor, em função das suas características”, defende João Vieira Lopes, presidente da CCP (Confederação de Comércio e Serviços de Portugal).
“Grande parte da economia está a correr bem, mas há setores que estão a correr menos bem e por isso pensamos que, em cada setor, o sindicato respetivo mais a associação patronal respetiva é que têm de encontrar os valores adequados”, acrescenta.
João Vieira Lopes esteve em direto no noticiário da Renascença, às 12h00, para reagir à reivindicação da CGTP, que quer aumentos salariais para todos os portugueses no próximo ano.
“Não temos nada contra uma subida de salários, achamos é que o Estado deve intervir o menos possível” e a negociação deve ser “livre, entre os representantes dos trabalhadores e os das empresas”, afirma o presidente da CCP.
Parece certo que o Governo vai avançar com aumentos salariais na função pública – foi, pelo menos, essa a vontade manifestada na última ronda negocial com bloquistas e comunistas e assumida publicamente por Carlos César, líder parlamentar do PS.
João Vieira Lopes lembra que Portugal tem mais empregados do que os que trabalham para o Estado.
“A esquerda parlamentar, infelizmente, tem em geral uma visão muito limitada da economia e grande parte dessas discussões têm estado a ser feitas dentro da função pública. Ora, havendo 500 ou 600 mil funcionários públicos, existem quase cinco milhões de empregados em Portugal, portanto, as lógicas são diferentes”, alerta.
Daí, a negociação setor a setor e sem “excesso de intervenção do Estado”.
Mas há um outro fator para o qual o presidente da CCP chama a atenção e que, no seu entender, tem de ser levado em consideração para haver aumentos salariais: a produtividade.
“O aumento da produtividade em Portugal significa que o Governo, neste Orçamento do Estado e nos outros, tem que investir cada vez mais nas áreas da formação, melhorar a gestão das empresas e qualificar melhor os empresários – que em Portugal, a maior parte, é de pequena dimensão. Assim, pensamos que conseguiríamos ter um desenvolvimento harmonioso”, defende na Renascença.
João Vieira Lopes reconhece que “a situação global da economia tem evoluído positivamente”, mas avisa: “forçar demais um conjunto de aumentos que as empresas não aguentem acaba por ter situações negativas, nomeadamente em termos de emprego”.
“Penso que é preciso muito bom senso e não ser radical nem maximalista”, resume.
A CGTP marcou para 5 de novembro uma manifestação nacional para exigir aumentos de salários no próximo Orçamento.