O Presidente da República acredita que Azeredo Lopes, antigo ministro da Defesa, não sabia do reaparecimento das armas de Tancos, e assinalou a "coincidência temporal" desse acontecimento com a remodelação governamental na sequência dos incêndios.
Em entrevista à TVI, Marcelo Rebelo de Sousa falou cerca de dez minutos sobre o caso de Tancos, considerando que no plano judicial "vai haver uma decisão que vai ser mais rápida do que se temia" e desvalorizando as alegações do Ministério Público sobre o seu anterior chefe da Casa Militar, o tenente-general João Cordeiro.
Questionado se em algum momento se sentiu enganado pelo ex-ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, o chefe de Estado respondeu: "Não, porque o senhor ministro da Defesa, nunca, nos múltiplos contactos que tivemos sobre Tancos, me deu o mínimo sinal - e digo o senhor ministro da Defesa como o senhor primeiro-ministro, com quem falei de Tancos 'n' vezes - de que sabia o que se tinha passado relativamente a Tancos".
"Não sabia, eu fiquei com a convicção sempre de que ele não sabia nem antes nem durante o furto das munições que ia haver o furto e como é que foi o furto, nem que iam ser achadas as munições no momento em que foram achadas", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República relatou, em seguida, que quando leu a notícia da agência Lusa sobre o reaparecimento do material militar furtado de Tancos, no dia 18 de outubro de 2017, observou para si próprio: "Olha que coincidência temporal esta. No momento em que temos um problema enorme, que foi o dia do grande problema da segunda vaga de fogos e que culminou no pedido de exoneração da senhora ministra da Administração Interna [Constança Urbano de Sousa] e na remodelação feita pelo senhor primeiro-ministro, de repente, onde havia duas frentes, passou a haver uma só frente".
"Mas que coincidência. Para quem é crente, é a providência divina, para quem não é crente, é um acaso muito curioso, pensei para comigo. Eu sou crente, portanto, dou o benefício da dúvida à providência divina", considerou Marcelo Rebelo de Sousa.
Sobre as alegações relativas ao anterior chefe da sua Casa Militar, o Presidente da República disse que o tenente-general João Cordeiro "não foi demitido", mas sim "passou à reserva por limite de idade" no final de 2017, e argumentou que nada do que este lhe pudesse ter eventualmente dito sobre o caso de Tancos teria tido relevância.
Quanto a uma eventual tentativa de contacto de João Cordeiro para o avisar do reaparecimento das armas, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que nessa manhã isso teria sido impossível: "O chefe da Casa Militar, supondo que ele recebeu um telefonema, supondo que tinha querido falar comigo, não tinha podido falar comigo porque eu estava num contacto com um chefe de Estado estrangeiro".
"Mas vamos imaginar que ele tinha dito, 20 minutos antes da Lusa: Olhe, senhor Presidente, foram achadas as munições. E daí? Não aconteceu, mas, e daí?", interrogou.
O chefe de Estado adiantou que do que se recorda é de Joana Marques Vidal, então procuradora-geral da República, com quem mantinha "contactos permanentes" e que o ia "informando dentro da lei do que se passava", lhe dizer: "Senhor Presidente, já viu bem o que fez a Polícia Judiciária Militar (PJM)? Fez isto que é ilegal, que é investigar sem conhecimento e sem informação ao Ministério Público".
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que também se alega que João Cordeiro, numa fase anterior deste caso, teria recebido contactos para o "pressionar no sentido de ser PJM a tomar conta do processo, e não Polícia Judiciária (PJ) por direção do Ministério Público".
Contudo, realçou que essa mesma informação já a tinha ouvido pessoalmente quando visitou Tancos no dia 04 de julho de 2017.
"O que ele supostamente me teria dito, ou teria sido pedido para ele me dizer, eu já sabia. Eu sabia pelo próprio diretor da PJM: nós é que queremos investigar, nós é que temos investigado e é preciso que a senhora procuradora-geral da República aceite isso assim", salientou.
Além disso, afirmou que o anterior chefe da sua Casa Militar "sabia perfeitamente, porque era público e notório", que o Presidente da República "apoiava a procuradora-geral da República, o Ministério Público, e não a PJM".
"O antigo chefe da Casa Militar tem um processo paralelo em que está acusado de declarações que fez e em que eu aceitei ser testemunha abonatória do seu perfil, do seu caráter", mencionou ainda Marcelo Rebelo de Sousa.