O Partido Socialista Europeu (PES) ficou "completamente surpreendido" com as detenções de sexta-feira, que envolveram a vice-presidente do Parlamento Europeu Eva Kaili, falando num e num "choque" para o movimento sindical europeu.
Fonte do Partido Socialista Europeu disse à agência Lusa que declarações recentes de Eva Kaili - que, numa sessão plenária em novembro, tinha caracterizado o Qatar como um "pioneiro dos direitos laborais" - provocaram estranheza, mas nunca "passaria pela cabeça de ninguém que isso pudesse ter, pelo menos supostamente, outras origens".
Falando num "balde de água fria" para o PES, a fonte em questão também considera que a detenção do secretário-geral da Confederação Internacional de Sindicatos (ITUC, na sigla em inglês), Luca Visentini, constitui um "choque" para o movimento sindical europeu.
"É preocupante, até porque há muitas vezes a tentação de colar a ITUC excessivamente aos socialistas, e agora aparecerem no mesmo caso os socialistas e a ITUC... É mau para o movimento sindical europeu", considera.
A fonte refere que, de acordo com informações iniciais, deverá ter sido o ex-eurodeputado socialista Pier Antonio Panzeri - também detido na sexta-feira - que originou a investigação por detrás das detenções.
O PES espera agora que não haja mais detenções, uma vez que o Parlamento Europeu é "extremamente exigente" em matéria de transparência quanto a relações com lóbis, de forma a evitar conflitos de interesses.
Sobre o eventual envolvimento de eurodeputados socialistas portugueses, a fonte em questão garante "ninguém tem qualquer ligação ao Qatar" e, portanto, não deverá surgir "absolutamente nada" nesta investigação que envolva a delegação portuguesa.
Apesar disso, o PES considera este caso terá "custos" na imagem do Parlamento Europeu, mas considera que o tamanho dos danos irá depender da evolução da investigação. Para já, realça que, tanto o Parlamento Europeu como o PES, foram "muito claros em negar qualquer envolvimento" no caso e em "manifestar a sua disponibilidade para cooperar" com as autoridades policiais.
Entretanto, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, afirmou que a instituição europeia que lidera irá fazer "tudo o que puder" para ajudar a investigação. "O nosso Parlamento Europeu é firmemente contra a corrupção. Nesta fase, não podemos tecer comentários sobre qualquer investigação em curso, a não ser para confirmar que cooperámos e continuaremos a cooperar plenamente com todas as autoridades judiciais e policiais relevantes", escreveu Metsola numa mensagem publicada na sua conta oficial na rede social Twitter.
A vice-presidente do Parlamento Europeu (PE), a social-democrata grega Eva Kaili, está entre os cinco detidos na Bélgica no âmbito de uma investigação sobre alegado lóbi ilegal do Qatar para influenciar decisões políticas em Estrasburgo, segundo a imprensa belga.
Eva, que ocupa uma das 14 vice-presidências do PE, foi detida na sexta-feira no âmbito desta investigação e a sua casa alvo de buscas pelas autoridades, noticiaram os jornais "Le Soir" e "Knack".
Fonte ligada ao processo adiantou à agência France-Presse (AFP) que Eva Kaili foi "detida para ser interrogada" pela polícia.
Em Atenas, o Partido Socialista Grego (Pasok-Kinal), do qual Kaili é membro, anunciou que esta foi "demitida". O PES entretanto também já anunciou a suspensão de Kaili com "efeitos imediatos".
A polícia de Bruxelas realizou hoje 16 buscas domiciliárias e efetuou as detenções, entre as quais o companheiro de Kaili, atual colaborador ligado ao grupo dos Socialistas e Sociais Democratas no PE, adiantaram as mesmas fontes.
"Le Soir" e "Knack" tinham avançado na sexta-feira de manhã a existência de uma investigação sobre um alegado caso de corrupção, organização criminosa e branqueamento de capitais iniciado pela Procuradoria-Geral da República da Bélgica em julho, por suspeita de que o Qatar teria tentado influenciar o posição do PE.
"Há vários meses que investigadores da polícia suspeitam que um Estado do Golfo tenta influenciar as decisões económicas e políticas do Parlamento Europeu", adiantou, na sexta-feira, o Ministério Público Federal belga em comunicado.
Este Estado teria executado esta estratégia através do "pagamento de quantias substanciais de dinheiro, e oferecendo presentes importantes a terceiros, a pessoas com uma posição política ou estratégica importante dentro do Parlamento Europeu", acrescentou.
Embora o Ministério Público belga não mencione explicitamente o Qatar, os dois meios de comunicação belgas citam várias fontes que confirmaram que se trata do país que organiza o Mundial de futebol.