Em final de festa, Assunção Cristas transformou um dedo erguido numa agressão, António Costa perdeu o controle num confronto de palavras com um idoso e Mário Centeno provou ser não apenas um político frágil, mas deselegante.
Dir-se-ia, portanto, que houve sprints para a meta com mais emoção, embora nos três casos acima referidos se possa também falar em nervosismo.
São notas finais que destoam claramente do tom genérico de uma campanha sem grandes disputas e sem grande discussão em torno de propostas concretas.
A estabilidade dos resultados das sondagens ao longo dos últimos dois anos ajudou a reduzir a crispação, mas terá também fomentado alguma complacência (que se percebe melhor no caso do PS e que não se percebe de todo no caso das restantes forças políticas).
Foram, por isso, vários os temas que não conseguiram entrar nas ‘agendas’ de forma suficiente para nos motivar, instigar, ou até dividir.
Num tempo em que ainda decorre a confirmação dos escolhidos para a nova Comissão Europeia, o futuro da UE, as suas apostas estratégicas ou o posicionamento de Portugal relativamente a algumas questões vitais – o mar, as redes de transportes, a regulação do sector financeiro, as políticas para a internet e tantas outras – não apareceram.
Das poucas vezes que se falou de Educação foi apenas para relembrar as disputas com os professores e sobre Ciência não se ouviu coisa nenhuma.
A Cultura foi peão nalgumas trocas de palavras barrocas sobre se deve ou não haver um ministério ou sobre o que deve ser considerado como investimento no sector; ficou a sensação de que o objetivo dos participantes seria mesmo o de não falar muito sobre o tema.
Dois outros assuntos relevantes e interligados que ficaram na penumbra – a desertificação do interior do país e a regionalização. O primeiro foi tratado com palavras daquelas que se repetem a cada quatro anos sempre que se visita, por exemplo, Viseu: ‘vamos fazer e acontecer’ – ‘nunca ninguém fez e aconteceu tão bem como nós’. Mais do que isso, nada. Nadinha, mesmo. O segundo é uma espécie de tabu; não se fala nele para ver se nos esquecemos de que existe.
Um último tópico – a reforma do sistema eleitoral – marcou lugar na mesa das ausências.
Os números da abstenção agravam-se e são expressivos entre os mais jovens mas – sobretudo às grandes forças políticas – parece importar pouco abrir um debate sério sobre a forma como se organiza o sistema, sobre as distorções induzidas pelo método D’Hondt, sobre a quase inexistência de mecanismos de correção das assimetrias entre o Interior/Arquipélagos e o Litoral, sobre o funcionamento dos tempos de antena, sobre as modalidades de votação ou sobre o (já quase ridículo) dia de reflexão.
Tudo isto – e muito mais – faltou a uma campanha eleitoral simpática, mas sem grande dinâmica nos debates. Foi a campanha que os partidos quiseram fazer, mas não foi a campanha que se poderia e deveria esperar numa democracia plena de vitalidade.