Na semana que marca a chegada oficial da Primavera, confirma-se que o estado do tempo é cada vez mais influenciado pelas alterações climáticas.
Apesar de a nova estação ter tido início na madrugada do passado dia 20, do ponto de vista astronómico, há indícios evidentes de que fauna e flora despertam antes do calendário.
O climatologista Carlos da Câmara explica à Renascença que “segundo alguns estudos, nos últimos 30 anos o início do ciclo vegetativo adiantou-se uma semana. Há outros estudos que dão um adiantamento ligeiramente maior, com dois a três dias por década, o que daria cerca de seis a 18 dias em 30 anos, ou um pouco mais”. Os mesmos estudos demonstram ainda um atraso no Outono, em cerca de um a cinco dias, e um prolongamento do Verão.
Aquele que é também denominado de “desfasamento de estações” apresenta vários outros indicadores.
“O aparecimento de botões nas árvores é exemplo disso, assim como o começo da postura de ovos pelas aves, que tem vindo a adiantar-se na ordem das duas semanas. Também há registos feitos por satélite acerca do crescimento das plantas mais ligadas à agricultura que mostra que a estação de crescimento se expandiu à volta de 10 a 20 dias”, exemplifica Carlos da Câmara.
O ciclo migratório das aves é outra prova das alterações no clima. “A vinda dos pássaros tem sofrido modificações, ao longo destas últimas três décadas. Também acontece que alguns desses pássaros já nem sequer migram, o que mostra que as condições climáticas têm mudado. Por exemplo, em Portugal há um aquecimento muito grande, sobretudo no Inverno, que vai fazendo com que o Inverno seja mais curto e mais quente”, especifica.
O professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa diz ser inegável o impacto das alterações climáticas e sublinha que nunca na história do clima se observou um aquecimento do planeta de forma tão rápida, desde a Revolução Industrial.
Tal cenário acentua um problema de adaptação dos seres vivos, a estas mudanças. “Agora, a alteração climática está a ir muito mais depressa do que aquilo que a população de seres vivos consegue acompanhar. Eu até vou mais longe, acredito que mesmo para a própria Humanidade é difícil seguir este ritmo que está, cada vez mais, a ser acompanhado por acontecimentos extremos”, declara.
O climatologista defende a aplicação de medidas que mitiguem o impacto das alterações climáticas, mas lembra que “o planeta demora muitos anos a reagir com eficácia”.
Segundo as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, os termómetros devem aproximar-se dos 30ºC em Lisboa, entre sexta-feira e domingo.
Com a entrada do equinócio da Primavera mudará também a hora no dia 31 de março, adiantando-se os relógios uma hora.