Entoando o hino da Ucrânia, cerca de uma centena de ucranianos estiveram, quinta-feira à noite, reunidos frente à Câmara de Viseu para apelar à paz. A bandeira azul e amarela foi erguida por pequenos e graúdos.
A invasão da Ucrânia pela Rússia não foi uma surpresa para o jornalista Andriy Dyakun, 53 anos, que há 20 trabalha em Viseu, como calceteiro. Representante da Associação dos Ucranianos em Viseu, não tem medo de dizer o que lhe vai na alma.
“Não foi uma surpresa, eu estudei, era jornalista na Ucrânia. A Rússia não deixa a Ucrânia ser independente sem sangue. Quando a Ucrânia se tornou independente em 1991, os mais velhos diziam que não era verdadeira, porque nunca nos dariam sem sangue. Se o mundo não ajuda, nós vamos lutar até à ultima. Acreditem que estamos a defender a Europa, ele [Putin] não vai parar na Ucrânia, ele é paranoico, pior que Hitler”, denuncia.
Há 20 anos a viver em Viseu, mas com a família, na Ucrânia, o casal Oksana e Mikhail Kushnir não escondem a angústia. “Tenho muita família, os meus irmãos, irmãs, pais” soluça Oksana. “Problema grande, a Rússia é mentiras e ladrões”, considera Mikhail.
Tetyana Borsuk, 50 anos, está há 18 em Viseu. Tem o coração apertado e receia principalmente pelas mulheres e crianças.
“A minha cunhada com crianças pequenas, acordam à noite, e veem as explosões, estão com medo, estão com medo pelas crianças”, conta Tetyana, sublinhando, todavia, que o povo está unido.
"Está tudo muito unido. Ninguém quer fugir, eles estão prontos para lutar até ao último suspiro. Nós não roubamos a terra dos outros e vamos vencer. Estamos a rezar e não sei o que quer este homem, o Putin. O meu irmão mais velho já foi chamado para o serviço militar. É muito complicado, muito triste, parece inacreditável, impossível, acordámos com esta triste notícia”, desabafa.
Elena Nazarenko., 45 anos, empregada doméstica em Viseu, há 20 anos, com dois filhos, está preocupada com os pais que deixou na Ucrânia.
“Está muito assustador porque passam os tanques por baixo das janelas dos meus pais. Fomos criados da mesma maneira, sempre achei que éramos iguais, que tínhamos a mesma mentalidade. Os meus pais até esta noite pensavam que isto nunca ia acontecer, povos tão próximos virarem-se uns contra os outros”, refere, num registo de incompreensão.
Estima-se que haja 250 ucranianos registados em Viseu e admitem manifestar-se diariamente pelo fim da guerra.