“Lembro-me de pensar que estava a morrer. Felizmente, estava errado." Salman Rushdie, escritor britânico de origem muçulmana indiana, recordou o dia em que foi atacado em palco, quando se preparava para dar uma palestra. Foi há dois anos e, para lidar com o que aconteceu, escreveu o livro "Knife" (Faca, em português) que, esta terça-feira, é lançado em Nova Iorque.
Em entrevista à BBC, Rushdie diz que ter perdido um olho — consequência do ataque — "o perturba todos os dias", até porque o obrigou a repensar uma série de gestos diários como, por exemplo, descer escadas ou atravessar uma rua. Além disso, recordou o momento em que foi esfaqueado 12 vezes durante um ataque que durou 27 segundos.
"O olho estava meio pendurado na minha cara, na minha bochecha, como um ovo cozido. E cego."
Foi em Nova Iorque, num estabelecimento de ensino, que Rushdie foi vítima do ataque, em agosto de 2022. Lembra-se que o atacante correu as escadas do palco na sua direção: “Não podia ter lutado com ele. Não podia ter fugido."
Tombado no chão, lembra-se de ver “uma quantidade espetacular de sangue” à sua volta.
De resto, contou que esteve quase a faltar ao evento, já que na véspera sonhou que ia ser atacado. "Mas pensei, é um sonho. E, além disso, eles pagam muito bem. Toda a gente já comprou bilhetes. Devia ir", relatou à BBC.
O escritor passou anos escondido depois da publicação de Versos Satânicos, editado em 1988, livro considerado uma ofensa por muitos muçulmanos e que gerou todo o tipo de ameaças à vida de Salman Rushdie. "Claramente, teria sido um absurdo se isso não passasse pela minha cabeça", respondeu o escritor quando questionado sobre se nunca temeu ser atacado.
Sobre o ataque que o deixou cego, o escritor consegue, agora, encontrar um lado positivo: não ter sofrido danos cerebrais, já que isso o impediria de continuar a ser ele próprio.