Não há boas segundas oportunidades nas presidenciais portuguesas
09-09-2020 - 07:42
 • Eunice Lourenço , Henrique Cunha

Marisa Matias apresenta esta quarta-feira a sua segunda candidatura presidencial. Cavaco Silva foi a exceção à regra de que não há segundas oportunidades de sucesso nas eleições portuguesas.

Aníbal Cavaco Silva, em 2006, foi eleito Presidente da República à segunda tentativa, dez anos depois de ter sido derrotado por Jorge Sampaio, em 1996, numas eleições presidenciais de volta única.

A eleição de Cavaco Silva à segunda tentativa é a exceção à regra nas eleições presidenciais portuguesas, onde as segundas candidaturas da mesma pessoa têm sido, de forma geral, piores que a primeira tentativa.

É o que arrisca Marisa Matias, a eurodeputada do Bloco de Esquerda que, esta quarta-feira, apresenta a sua candidatura presidencial, precisamente no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa perde o poder de dissolução do Parlamento por entrar nos últimos seis meses do seu mandato. Há cinco anos, Marisa Matias ficou em terceiro lugar, com 10,1 por cento dos votos, o melhor resultado de sempre do Bloco em eleições presidenciais.

“O Bloco de Esquerda ao permanecer com a sua candidata provavelmente terá resultados inferiores ao que teve”, prevê o politólogo António Costa Pinto, em declarações à Renascença. Costa Pinto também não augura um bom resultado ao PCP, que apresentará o seu candidato no fim-de-semana. “O PCP apresentou sempre candidatos de manutenção, sobretudo em conjuntura de reeleição do Presidente da República em exercício com fraquíssimos resultados eleitorais”, aponta o especialista.

Há um segundo caso de segunda candidatura que pode ser considerado positivo e que é comunista. Aconteceu nas mesmas eleições de Cavaco, quase com os mesmos protagonistas: em 2006 Jerónimo de Sousa teve 8,6%, dez anos depois de ter desistido em favor de Jorge Sampaio.

Basílio Horta tem o exemplo contrário de Jerónimo. Em 1991 , teve 14,1 quando foi o candidato do CDS e o PSD apoiou a reeleição de Soares. Dez anos depois, ainda pelo CDS, então liderado por Paulo Portas, desistiu a favor de Joaquim Ferreira do Amaral na reeleição de Sampaio.

As eleições de 2006 têm ainda um outro exemplo de como repetir não dá bom resultado. Mário Soares - o Presidente surpresa de 1986, eleito com 51,1 na segunda volta , e Presidente-rei de 1991, eleito com 70,3% -, quis voltar a ir a votos para tentar impedir a eleição de Cavaco e teve 14,3%, ficando em terceiro lugar, atrás de Manuel Alegre.

Alegre teve 20,7% em 2006, mais um ponto percentual do que teria cinco anos depois, quando ficou com 19,7 na reeleição de Cavaco . Tombo bem maior teve Otelo Saraiva de Carvalho muitos anos antes: em 1976 alcançou 16,4% dos votos, quatro anos depois ficou-se por 1,4%.