Novo fóssil. "Radnoria guyi" tem cerca de um centímetro e 455 milhões de anos
30-11-2015 - 14:31
 • Olímpia Mairos

É uma nova espécie de trilobite descoberta no concelho de Mação. Corresponde actualmente ao registo "mais antigo deste género" no mundo.

Investigadores descobriram um novo fóssil nas rochas da Formação Cabeço do Peão, no concelho de Mação, Santarém. O achado com 455 milhões de anos, denominado "Radnoria guyi", é classificado como “histórico”, segundo a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real.

Artur Sá, investigador da universidade, explica que “este fóssil foi encontrado pelo paleontólogo não profissional Pierre-Marie Guy, que contactou a equipa do Centro de Geociências para a sua identificação. Depois de observado concluiu-se tratar de uma espécie nova de trilobite, um animal já extinto que existiu muito antes dos primeiros dinossauros”.

À trilobite foi atribuído o nome "Radnoria guyi", em homenagem ao descobridor, que ofereceu o fóssil às colecções paleontológicas do Museu de Geologia Fernando Real da UTAD e indicou o local do achado onde, posteriormente, foram recolhidos mais exemplares para o estudo que entretanto foi realizado.

“Esta descoberta traz nova luz acerca da distribuição temporal e geográfica do género "Radnoria", sugerindo a possibilidade de se ter originado em altas latitudes antárcticas, local onde se formaram as referidas rochas nas margens do continente Gondwana, há muito desaparecido”, acrescenta o investigador.

A sua identificação foi feita no âmbito dos trabalhos de doutoramento de Sofia Pereira, aluna da Universidade de Lisboa (UL), orientada por Artur Sá, docente e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e Carlos Marques da Silva, docente e investigador.

Descoberta histórica

Esta nova trilobite corresponde actualmente ao registo mais antigo deste género. Até agora, o registo mais antigo de Radnoria, documentado, estava localizado no Sul da China.

Daí a descoberta ser considerada histórica já que “muda toda a perspectiva e conhecimento de um género cuja origem ocorreu num território que, 450 milhões de anos depois, viria a ser Portugal”, salienta a doutoranda Sofia Pereira.

A descoberta foi descrita e caracterizada num trabalho publicado no “Bulletin of Geosciences”, uma das revistas de referência em paleontologia, com autoria de Sofia Pereira, doutoranda da UL e colaboradora do Centro de Geociências; Carlos Marques da Silva, da Faculdade de Ciências da UL; Miguel Pires, Paleontólogo não profissional e Artur Sá do Departamento de Geologia da UTAD.

As trilobites são uma classe extinta de artrópodes marinhos que viveram durante quase 300 milhões de anos e dominaram amplamente os ambientes marinhos do Paleozoico. A designação diz respeito à divisão transversal da sua carapaça mineralizada em três lóbulos (tri-lobite): a ráquis (ao centro) e as pleuras (lateralmente). Longitudinalmente apresentam uma constituição corporal semelhante à de outros artrópodes: o cefalão (cabeça), o tórax e o pigídio (cauda).