Os cristãos do Paquistão estão preocupados com a entidade criada pelo Governo para assegurar a implementação dos ensinamentos de Maomé na sociedade paquistanesa, nomeadamente através da monitorização dos currículos escolares e da fiscalização das redes sociais.
A entidade, que foi anunciada recentemente pelo primeiro-ministro Imran Khan, vai também promover a investigação islâmica nas universidades e terá a capacidade de suspender a difusão de conteúdos considerados blasfemos nas redes socais.
Em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), Sabir Michael, dominicano leigo e professor na Universidade de Karachi, explica que a criação desta nova entidade poderá significar “um aumento da influência dos grupos mais extremistas” e, simultaneamente conduzir a “uma maior fragilização dos direitos das minorias religiosas e das mulheres”.
Segundo o professor universitário, o primeiro-ministro Imran Khan está a “usar a religião por razões políticas”.
“Um dia depois de aumentar o preço da gasolina, Khan instou a nação a celebrar o aniversário do nascimento do Profeta Maomé de uma forma sem precedentes. Foi um truque político. As questões estruturais do extremismo, da pobreza, das disparidades económicas, do aumento das diferenças nas classes não estão a ser abordadas. As suas ações são artificiais e temporárias”, elenca em declarações à AIS.
No entender de Sabir Michael, com a criação da nova entidade, o Paquistão corre o risco de se isolar ainda mais face à comunidade internacional.
“Hoje em dia, o Paquistão está isolado devido à Islamização e à falta de respeito pelos direitos humanos”, afirma o leigo dominicano, com consequências que se refletem ao nível do turismo e da insegurança em termos de prática religiosa das minorias.
“Os turistas desapareceram das nossas ruas. As minorias religiosas não podem realizar serviços de culto, sem medidas de segurança. Escolas e hotéis transformaram-se em fortalezas. Os pais não-muçulmanos proíbem os seus filhos de se envolverem em qualquer discurso religioso”, descreve o professor universitário, concluindo que, com a criação da nova entidade, o Estado paquistanês “está a promover uma religião e a negar as outras”.