A vida selvagem teve um declínio de 69% desde 1970, revela um relatório da organização ambientalista internacional “World Wide Fund for Nature” (WWF) divulgado esta quinta-feira.
A edição deste ano do relatório Planeta Vivo, que é publicado de dois em dois anos, monitorizou mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes e alerta para o “estado grave da natureza” e aponta “a urgência de implementar ações transformadoras por parte dos governos, empresas e cidadãos”, explica em comunicado a Associação Natureza Portugal (ANP/WWF), que representa a WWF em Portugal.
O documento indica que em Portugal se continua a consumir em excesso, sendo precisos os recursos de 2,88 planetas para fazer face ao consumo dos portugueses. No relatório de 2020 a relação era de 2,52 planetas.
A ANP/WWF afirma em comunicado sobre o relatório que são necessárias medidas como a proteção de 30% do mar, terra e rios, restaurar a saúde dos rios, consumir proteína de forma sustentável, escolher produtos de base florestal, proteger tubarões e raias, travar a mineração em mar profundo e dar voz aos jovens.
Para o relatório da WWF foram monitorizadas quase 32.000 populações de 5.230 espécies, tendo-se concluído que as populações de vertebrados das regiões tropicais estão “a cair a um ritmo alucinante”.
“A WWF está extremamente preocupada com essa tendência, uma vez que várias dessas áreas geográficas são das mais biodiversas do mundo”, diz-se no documento, no qual se salienta que os dados revelam que entre 1970 e 2018, as populações de animais selvagens observadas na região da América Latina e das Caraíbas caíram, em média, 94%.
As populações de água doce caíram em média 83%, o maior declínio de qualquer grupo de espécies, em grande parte devido a perda de habitat e a barreiras às rotas de migração, como barragens.
Em termos gerais, segundo o relatório, os principais fatores do declínio da população da vida selvagem em todo o mundo são a degradação e perda de habitat, exploração, introdução de espécies invasoras, poluição, mudanças climáticas e doenças.
Citado no documento, o diretor-geral da WWF, Marco Lambertini, afirma que o mundo enfrenta duas emergências, as alterações climáticas e a perda de biodiversidade.
“Estamos deveras preocupados com estes novos dados, que mostram uma queda devastadora nas populações de animais selvagens, em particular nas regiões tropicais que são das paisagens mais biodiversas do mundo”, diz.
No comunicado, a ANP/WWF acusa Portugal de uma “relevante quota-parte de responsabilidade” no declínio global das populações de tubarões e de raias, que diminuíram 71% nos últimos 50 anos, com Portugal a ser o segundo país a nível mundial com maiores exportações de carne de tubarão e o sexto maior importador de carne de raia em termos de volume.
“A vida selvagem continua a decair de forma alarmante, o que traz graves consequências para a nossa própria saúde e subsistência, e Portugal não está isento de responsabilidades. Apelamos ao Governo e empresas do nosso país para que não ignorem os sinais de urgência enviados pelo nosso planeta, pois é dele que toda a humanidade depende”, diz a diretora-executiva da ANP/WWF, Ângela Morgado.
A associação recorda que em dezembro se realiza a 15.ª reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica, que diz ser uma oportunidade para se reverter a situação. A WWF defende que nessa reunião deve ser feito um acordo para reverter a perda de biodiversidade, do género do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa.
A WWF salienta que a forma como se produz alimentos está a colocar o planeta em risco, tendo lançado também hoje um relatório no qual identifica 20 sugestões para a transformação dos sistemas alimentares.
“É urgente acelerar a transição para sistemas alimentares sustentáveis através de políticas a nível nacional que sejam integradas com metas climáticas e de biodiversidade. A promoção da dieta sustentável é absolutamente essencial”, refere o comunicado.
O Relatório Planeta Vivo é editado de dois em dois anos e é a publicação mais emblemática da WWF. A publicação de hoje, com provas científicas de que a atividade humana insustentável está a “levar aos limites” os sistemas naturais do planeta, é a 14.ª edição.