O som da campainha ecoa na escola vazia. Os alunos do agrupamento de escolas Soares dos Reis, em Vila Nova de Gaia, vão manter-se em casa, mas as aulas à distância estão a chegar.
A uma semana do arranque das aulas não presenciais, falta apurar quem realmente necessita de material informático e o receio de que nem todos possam começar ao mesmo tempo é real.
Manuela Machado é a diretora. Define e organiza o dia-a-dia de mais de 1.600 alunos e 140 professores. Para lá da escola sede, com segundo e terceiro ciclos, tem a cargo três escolas de primeiro ciclo e dois jardins de infância, na freguesia de Mafamude.
Com oito dias de trabalho pela frente, necessita, desde logo, de saber quantos vão precisar de equipamento. É uma informação ainda por apurar. À Renascença, afirma que não consegue dizer quantos portáteis ou tablets faltam. E explica que, há dois dias, “metade dos pais ainda não tinha preenchido o inquérito. O número andava na ordem dos 200 e tal alunos”.
Perante a pergunta sobre se haverá computadores para eles, no que caso de se confirmar que não têm mesmo equipamento, responde que “neste momento, não temos”.
“Eu estive a fazer um levantamento. Neste momento, temos dez portáteis e dez espaços na escola sede preparados para o ensino à distância. Temos 20 situações de ajuda de colaboração. Depois, no 1º ciclo, temos 19 computadores/tablets que a autarquia ofereceu à escola para os alunos. Neste momento, é o que nós temos. Tenho uma semana para resolver isto tudo”, diz.
Não sabe se vai ser possível. “Eu sou muito positiva. A Câmara já entrou em contacto connosco para nos reunirmos na próxima semana. Eu acredito que não seja tão real o que os pais colocaram. Responderam na expectativa de que há computadores a chegar e pensam que tendo acesso, a escola já não vai dar. É um pouco complicado. Eu vou tentar que os diretores de turma me apresentem números mais fidedigno. O ano passado correu bem, mas não foi logo no início, foi gradualmente”.
Há, no entanto, outra incerteza. A diferença entre o número de pais e também professores que tinham acesso a meios tecnológicos e agora dizem não ter é muito grande.
Manuela Machado ensaia uma explicação. “Eu penso que alguns estão a dizer que não têm por se falar muito na chegada desses computadores e ao dizerem que sim depois não têm direito. Isso é mentira, toda a gente vai ter direito. Agora, também pode ser já os pais e professores a dizer que não têm, porque estão a contar com a situação familiar que vão ter. Ou seja, dois professores com dois filhos, por exemplo, são quatro pessoas a utilizar o portátil. Agora neste inquérito já estão a dizer que não têm, porque aquele computador pode ser para outro membro da família. Penso que pode ser isso. Neste momento, há 19 professores a dizer que não têm e, na reunião desta tarde, estiveram todos. Na próxima semana vou entrar em contacto direto com esses docentes, para ver qual é a situação deles.”
Vai agora ser feito um levantamento definitivo junto dos diretores de turma. Manuela Machado acredita que haverá material para todos, apesar de nesta altura ser insuficiente.
No entanto, enfrenta outra adversidade: as empresas estão com dificuldades em fornecer material informático. E dá o exemplo de um concurso prestes a terminar. “Todos nós sabemos que as empresas de computadores não têm para entrega e o ministério também terá problemas com esse tipo de concurso. Neste momento, eu tenho um concurso a terminar, de 31 portáteis, que foi o presidente da Câmara de Gaia que deu a cada professor de primeiro ciclo e do pré-escolar. Contudo, fomos nós que fizemos todo o procedimento esta semana e as empresas que nós convidamos dizem que não têm para entrega. Repare, são concursos muito grandes, são valores muito grandes, muitos computadores, terá corrido um bocado mal pensando que não iria ser necessário.
Manuela Machado trabalha em contrarrelógio e não exclui um cenário em que nem toda a gente consiga estar ligada à plataforma “Classroom” na próxima segunda-feira.
“Corre-se o sério risco de, no dia 8, muitos alunos não estarem ligados ou estarem ligados através de um telemóvel. É uma situação muito chata”, alerta.
A diretora do agrupamento teme efeitos na aprendizagem. “Já sentimos, neste primeiro período, que foi preciso trabalhar muito, por causa do terceiro período. Existe um plano de recuperação de aprendizagens que ficou aquém devido ao ensino à distância”.
O grupo etário que nos preocupa mais é o primeiro ciclo. Afeta todos, mas os alunos do primeiro ano aprenderam meia dúzia de letras. Como vai ser este ensino à distância? É muito complicado, os professores estão muito preocupados”, admite.
“Ensinar meninos de 6 anos, online, a aprender a ler, a escrever é muito complicado. É preciso muita articulação com os pais, mesmo até no segundo ciclo. É necessária muita colaboração em casa para ajudar o professor. No primeiro ciclo, dividimos a turma, o professor prefere dividir a turma e estar com metade para conseguir chegar a todos. Vai ser complicado. Eles dizem que vão dar o melhor e eu acredito que sim”, remata a diretora do agrupamento de escolas Soares dos Reis, em Vila Nova de Gaia.