José Vieira da Silva considera que "não faz sentido" discutir a sucessão de Costa no PS, mas reconhece que a corrida "está no terreno há anos". O dirigente socialista faz a ligação entre as polémicas que envolveram Pedro Nuno Santos e os problemas da governação. "Não é alheio", admite
Com o prometido regresso do ex-ministro das Infraestruturas ao Parlamento em julho, Vieira da Silva diz não acreditar que Pedro Nuno Santos venha a contaminar a vida do PS e do Governo. "Seria muito desagradável que isso acontecesse", resume o dirigente socialista
Com a questão da TAP, as polémicas, esta crise política, o fantasma de eleições antecipadas à porta, a saída de Pedro Nuno Santos do Governo. O PS, neste momento, começa a reunir todos os ingredientes para abrir uma guerra pela sucessão na liderança do partido?
Vamos falar com toda a clareza e franqueza: essa questão da sucessão está no terreno há anos, assumida. E todos sabemos quem são os protagonistas.
É uma questão que a comunicação social gosta muito de colocar porque é um assunto novo. Mas estar agora a discutir quem vai suceder o António Costa, que já disse que pretende governar até 2026, é uma coisa que não faz sentido nenhum. E que só pode criar problemas, como, aliás, eu acho que criou. Não acho que a emergência dessa questão seja alheia ao que se passou, nomeadamente, no Ministério das Infraestruturas.
Considera que Pedro Nuno Santos e toda a atuação que teve influenciou estes problemas?
Pedro Nuno Santos já apresentou a demissão, está a fazer um período sabático, quando regressar em Setembro será muito bem-vindo ao Parlamento. Agora o papel dele no Ministério do Equipamento e das Infraestruturas…
A guerra pela sucessão já começou.
Eu não lhe chamaria guerra. Corrida, sim.
Pedro Nuno Santos está mais fragilizado?
Isso parece-me que qualquer observador atento [concorda]… apesar de haver uma certa tentativa..
Até 2026, ainda dá para esquecer algumas coisas que fez?
Não são muitos os políticos que conseguem fazer mudanças, há um ou dois que conseguem.
Não está queimado para uma futura liderança do PS?
Quando digo que acho que é completamente extemporâneo estar a falar nisso… Agora vou dizer que está queimado? O que eu disse foi que a colocação desse plano, mesmo dentro do PS de uma forma extemporânea, não ajudou o PS nem ajudou à governabilidade do país. Não digo que seja a questão fundamental. Pessoalmente, faço essa leitura.
Foram os protagonistas dessa corrida que colocaram isso na agenda...
Isso é a vida dos partidos. É mais frequente quando se está na oposição. Lembremo-nos do calvário que o PSD está a viver na oposição com várias eleições, substituições. É menos frequente quando se está no Governo, com uma maioria absoluta e com um primeiro-ministro que definiu o seu horizonte de trabalho como secretário-geral.
Para si é líquido que António Costa depois de 2026 não quer voltar a ser líder?
Não faço mesmo ideia nenhuma. António Costa é uma pessoa especial, que tem uma capacidade política e uma sensibilidade política muito grandes. Ele fará as suas avaliações. Seria um facto um pouco original na nossa democracia.
A TAP fez cair Pedro Nuno Santos, já está a afetar o ministro das Finanças, Fernando Medina e a apanhar a ministra Ana Catarina Mendes. Os eventuais ou potenciais sucessores de António Costa estão a ser queimados?
Percebo a sua questão, só que não vou contradizer o que disse há pouco porque não sou capaz, a esta distância, de avaliar, previsivelmente em 2026, qual será o futuro do PS. O que me parece importante é que, mais do que pessoas, se discutam as suas opções estratégicas e o seu posicionamento político no quadro do partido que em Portugal representa a grande família socialista e social-democrata europeia. Isso sim, agora nomes… não sou capaz. A histórias dos partidos mostram que às vezes o lançamento precipitado de candidaturas até pode parecer que vai resultar, mas não, não é normalmente uma [certeza].
O regresso de Pedro Nuno Santos em Setembro pode contaminar a vida do Governo e do PS?
Não creio que isso aconteça. Seria muito desagradável que isso acontecesse. Acho que o conheço relativamente bem, foi meu colega do Governo; seria uma coisa impensável que houvesse qualquer coisa. Regressa ao Parlamento, onde já esteve várias vezes, será decerto um excelente deputado. Tudo o mais são especulações que não me parecem justificar.