É preciso pôr a economia a crescer e para isso Portugal precisa de mais investimento e mais consumo, ou seja, é preciso atrair mais dinheiro para negócios no país e dar mais poder de compra às famílias. O diagnóstico é de Luís Campos e Cunha, economista e ex ministro das Finanças de José Sócrates, que em entrevista à Renascença aconselha Luís Montenegro a atacar rapidamente o problema com um alívio fiscal transversal, para empresas e famílias.
O professor catedrático rejeita alterações pontuais dos impostos, dirigidas a determinados setores ou grupos, diz que este tipo de medidas devem ser simples e abrangentes, devem ser "para todos".
Ainda no crescimento, acredita que é possível pôr a economia a crescer 3,4% em quatro anos, como promete a coligação de direita, mas para isso é necessário avançar com medidas. Para Campos e Cunha, Portugal pode crescer muito mais do que a "miséria" dos 2% que o Banco de Portugal (BdP) prevê para este ano.
O antigo vice-governador do BdP avisa ainda que a descida do juros será lenta e que as taxas de 0% já não regressam, mas deverão normalizar a partir de agora. Por regra, a taxa de juro real deverá ficar meio ponto acima do crescimento da economia.
Mais preocupante é a perpectiva sobre o mercado da habitação. A presidente do BCE alertou esta semana para a exposição da banca da zona euro ao imobiliário, Luis Campos e Cunha admite que corremos o risco de assistir a uma bolha imobiliária em Portugal.
O novo governo está a prazo, aguenta no limite dois anos
É a previsão de Luís Campos e Cunha, que no programa Dúvidas Públicas diz que a prova de fogo do executivo da Aliança Democrática será a aprovação do Orçamento do Estado para 2025 e isso depende mais do PS do que da AD.
O primeiro ministro das Finanças de Sócrates acrescenta também que o PS ainda está a tentar perceber como vai fazer oposição à AD e conclui que os socialistas estão numa posição muito mais complicada que a coligação de direita. Uma oposição "bota abaixo" é "suicidária", mas se forem demasiado suaves estão a favorecer o Chega.
No partido de André Ventura, apesar de ter quase quintuplicado o número de deputados, Campos e Cunha não espera alterações na oposição, que deverá manter o barulho e os insultos. Ainda assim, também não vaticina para o Chega o mesmo fim que teve o PRD, que acabou por desaparecer nos anos 80.
Numa altura em que se discutem eventuais cenários e se distribuem os partidos como peças de xadrês no tabuleiro, o professor catedrático defende que a melhor forma de lidar com o Chega é não lhe dar atenção. Responsabiliza ainda António Costa e Augusto Santos Silva pela subida do eleitorado da extrema-direita.
Admite ainda que esta tendência populista continua a crescer e a extrema-direita vai crescer nas próximas europeias.
O professor alerta ainda que uma eventual vitória de Trump nos Estados Unidos é uma ameaça maior para Portugal do que os resultados das últimas eleições legislativas nacionais.
A entrevista de Luís Campos e Cunha ao programa Dúvidas Públicas da Renascença é transmitida depois do meio-dia e fica depois disponível, a qualquer hora, em www.rr.pt ou em podcast.