O chanceler alemão Olaf Scholz disse esta quinta-feira que a guerra na Ucrânia não deve conduzir a um "ressurgimento mundial" do uso de carvão, numa altura em que a própria Alemanha reavivou as suas centrais elétricas a carvão para fazer face à crise energética gerada pela invasão russa.
Num discurso no Bundestag (Parlamento alemão), Scholz destacou os esforços do seu Governo para contrariar os efeitos da decisão da Rússia em cortar o fornecimento de gás à Europa.
"A agressão russa e as suas consequências não devem conduzir a um ressurgimento mundial do carvão. Vamos apresentar propostas concretas para que os países em desenvolvimento e as nações emergentes também possam embarcar resolutamente no caminho rumo a um setor energético neutro em termos climáticos."
Nos últimos meses, Berlim reativou várias centrais elétricas que usam combustíveis fósseis, como o crude e o carvão, face a críticas de ativistas, que alertam que, com este revés, a Alemanha poderá não conseguir cumprir os seus objetivos climáticos.
Esta semana, adiantou hoje Schulz, foram reativadas mais cinco centrais de produção de eletricidade com recurso a lignite, um tipo de carvão de baixa qualidade e muito poluente. O chanceler fala numa "medida de emergência de curta duração mas necessária", a par da reativação de três centrais nucleares que deveriam ser encerradas no final deste ano mas que continuarão a funcionar, pelo menos, até meados de abril.
"Continuamos empenhados nos nossos objetivos climáticos", assegurou o chanceler aos deputados, apresentando como principais compromissos a expansão do uso de energias renováveis e a aprovação de toda a legislação necessária para cumprir as metas climáticas até ao final deste ano.
Autoridades de quase 200 países irão reunir-se na próxima cimeira do clima da ONU (COP27), em Sham el-Sheikh, no Egito, entre 6 e 18 de novembro, para retomar as discussões sobre o combate ao aquecimento global.
Scholz insiste que é necessário que, nos próximos meses, a UE feche um antecipado acordo sobre o chamado "Objetivo 55" ("Fit for 55"), um pacote de medidas a serem aplicadas pelos 27 Estados-membros para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 55% ao longo da próxima década.
"Vamos ajudar vigorosamente os Estados que hoje já estão a sofrer as consequências das alterações climáticas", assegurou hoje Scholz.
No início do mês, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros já tinha indicado que pretende que os grandes danos económicos resultado do aquecimento global sejam discutidos na cimeira da ONU no Egito.
Na primeira metade deste ano, o carvão correspondeu a 31,4% da eletricidade gerada pela Alemanha, um aumento em relação aos 27,1% registados no ano anterior.
Também entre janeiro e junho deste ano, cerca de 48,5% da eletricidade do país foi produzida com recurso a energias renováveis, contra 43,8% no período homólogo em 2021. Já as proporções de energia elétrica produzida em centrais nucleares e de gás caíram 6% e 11,7%, respetivamente, durante o mesmo período.