O cacau é mesmo das matérias-primas cujo preço mais tem aumentado. No Explicador Renascença desta quinta-feira vamos tentar perceber porquê e o que está em causa.
O que é que se passa? O mestre chocolateiro Jorge Cardoso, que esteve esta quinta-feira na tarde da Renascença, está em risco de ficar sem emprego?
Sem emprego não digo. Pode é ter de guardar as suas esculturas no banco.
O cacau já atingiu os 5.800 dólares por tonelada, o valor mais elevado de sempre, e mais do dobro do que se verificava por esta altura no ano passado.
Só para terem uma ideia, desde o início do ano, o preço do cacau já aumentou 35%, e a tendência é para que a situação se agrave. Aliás, a indústria que usa o cacau está a viver momentos de angústia e incerteza, porque há previsões que apontam para preços a rondar os 10 mil dólares por tonelada.
E a culpa é de quem? Dos viciados em chocolate? Há uma crise de cacau? O que é que se passa?
É um misto de fatores mas - como diz a agência Bloomberg - o problema do cacau é que ele depende de homens pobres, sobretudo africanos, que têm neste fruto a única forma de escapar da pobreza extrema. Ao longo dos anos, o cacau nunca evoluiu para um negócio de plantação, como aconteceu com o açúcar e o café.
Na maior parte dos casos, o cacau continua a ser produzido por pequenos produtores mal pagos e sem capacidade para renovar as plantas. Se juntarmos a isto as alterações climáticas que estão a afetar os países da África Ocidental - provocando secas extremas durante a maturação das sementes do cacau e cheias intensas durante as colheitas - o resultado é não só uma menor produção mas também mais doenças nos cacaueiros.
E não podemos ignorar, também, o efeito da guerra da Ucrânia. Embora indiretamente, o conflito também afeta este quadro, por causa do aumento dos preços dos fertilizantes.
E quem é que são os principais produtores de cacau?
São a Nigéria, os Camarões, o Gana e a Costa do Marfim. Os quatro juntos produzem quase 75% do cacau mundial, sendo que só a Costa do Marfim produz dois milhões de toneladas por ano. O consumo mundial é de 5 milhões de toneladas anuais.
E quem é que consome mais?
Os maiores consumidores são os países europeus e os da América do Norte, mas os que estão a crescer mais são China e India.
Se não houver um ajuste, e o atual défice de produção se mantiver enquanto a procura não para de aumentar, o chocolate pode muito bem vir a ser um produto de luxo, só para alguns.
Mas não há outros países com capacidade para produzir cacau?
Haver há. Mas, para já, ainda são responsáveis por uma percentagem muito pequena, quase residual, da oferta.
Estou a falar do Brasil, Equador, Indonésia ou Peru, países que, de momento, estarão a lucrar com toda esta situação porque conseguem vender o cacau mais caro, ao mesmo tempo que vão criando condições para plantar mais árvores. Contudo, não têm capacidade para acompanhar a procura, que está a aumentar de forma significativa.