“Estamos na fase da responsabilização e não da libertação total”
23-09-2021 - 10:30
 • Anabela Góis , Olímpia Mairos

O Conselho de Ministros deve definir hoje a última fase do processo de desconfinamento. A líder da equipa de peritos que aconselha o Governo diz ser necessário monitorizar a pandemia para evitar que novas variantes da Covid-19 possam levar a uma sobrecarga dos hospitais.

O Governo está reunido em Conselho de Ministros para aprovar as restrições impostas pela Covid-19 que vão ser levantadas no próximo dia 1 de outubro, altura em que devemos atingir os 85% da população com a vacinação completa.

Em entrevista à Renascença, Raquel Duarte, que lidera a equipa de peritos que aconselha o Governo na definição do processo de desconfinamento, lembra que há limites a manter em função do risco.

Estamos na fase da responsabilização, não na libertação total. Nós só estamos no caminho de ter a abertura das atividades, de começar a reduzir cada vez mais as medidas restritivas, mas tudo acompanhado de uma comunicação eficaz que permita a todo o indivíduo e organizações saber fazer a autoavaliação do risco e ajustar as medidas que são as mesmas”, afirma.

“Em alguns locais vai ter que haver certificado, teste, lotação máxima, máscara. Vamos ter que perceber que em algumas situações devemos manter a distância e a máscara. Todas essas medidas devem ser ajustadas à perceção de risco”, defende a especialista.

Raquel Duarte, que também foi secretaria de Estado da Saúde, admite, por outro lado, que o certificado digital deixe de ser obrigatório para aceder a alguns espaços como até aqui e insiste na necessidade de monitorizar a pandemia de forma eficaz para evitar que novas variantes da Covid-19 possam levar a uma sobrecarga dos hospitais.

“A partir do momento que tivermos mais de 85% da população vacinada, quer dizer que usar o certificado, de uma forma rotineira, já começa a não fazer sentido, pois a grande maioria está vacinada”, entende.

“No entanto, haverá locais em que poderá ser necessário a apresentação do certificado. Mais uma vez porque percebemos que em alguns locais – de maior risco – precisamos de utilizar as medidas de proteção multicamadas: usar certificado, fazer teste, manter lotação e utilização da máscara.”

Que cuidados devemos ter nesta nova fase?

Vamos ter uma grande taxa de cobertura da vacinação, mas temos de continuar a utilizar as outras camadas de proteção, nomeadamente, as medidas de proteção individual: manter a distância e a utilização de máscara, particularmente em locais, onde não é possível manter a distância ou em locais não ventilados. Também temos de aprender em apostar cada vez mais na qualidade da ventilação dos espaços interiores, que são os locais onde há maior risco de transmissão, particularmente nos não ventilados ou onde há uma grande agregação de pessoas.

Não será arriscado acabar com os limites de lotação, por exemplo, nos restaurantes, nas lojas e outros espaços fechados?

Aquilo que é preciso é que as pessoas façam a autoavaliação. Que cada individuo ou cada organização tenha noção exatamente de qual é o risco que pode existir num determinado local, numa determinada atividade e vá definindo as medidas que devem ser implementadas.

Como se deve preparar o SNS na eventualidade de aparecer uma nova variante, por exemplo, que faça disparar o número de internamentos?

É monitorizar todos os indicadores relacionados com a incidência, com o internamento - quer em enfermaria quer em unidade de cuidados intensivos -, a letalidade ligada à Covid para que possamos andar para a frente e para trás, de acordo com essa avaliação. O que quer dizer que as medidas têm que ser implementadas antes que exista uma sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde. O SNS tem que dar resposta não só aos doentes Covid, como aos não Covid. Aliás, tem sido essa a última preocupação: dar resposta e recuperar as listas de espera quer cirúrgicas quer consultas, garantindo que todo o doente não Covid é também atendido em tempo útil e de forma eficaz. O que se demonstrou é que o SNS é suficientemente elástico para conseguir dar resposta às necessidades.

Há hospitais que já se estão a preparar e têm planos para o inverno, altura em que haverá o vírus da gripe...

Os hospitais ou serviços de saúde têm sempre que desenhar, todos os anos, independentemente da Covid, um plano de contingência para o inverno. Não é nada de novo. Já sabemos que o inverno, mesmo antes da Covid, estava associado ou à gripe e a outros vírus respiratórios o que leva a um aumento de internamentos e a um aumento da procura dos serviços de saúde. Esse plano tem que prever a Covid e vai ter que ser ajustado.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.933 pessoas e foram contabilizados 1.063.991 casos de infeção confirmados, segundo dados da DGS.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil ou Peru.