A pandemia da covid-19 dominou o debate entre os candidatos presidenciais João Ferreira e Vitorino Silva, mas sem divergências, com ambos a sublinharem a necessidade de o Estado reforçar o investimento na Saúde.
No último frente a frente antes do debate final com os sete candidatos à Presidência da República na terça-feira, estiveram em cima da mesa poucos temas e houve escassos momentos de confronto.
Com a primeira palavra, o presidente do partido Reagir, Incluir e Reciclar (RIR) afirmou que a saúde e a economia não podem ser polos opostos no combate à covid-19.
“Temos que nos centrar para ir à procura do equilíbrio e é o equilíbrio que, neste momento, nós precisamos porque estamos desnivelados”, disse Vitorino Silva.
João Ferreira contrariou, dizendo que, “normalmente, quem encara as coisas desta forma acaba por não fazer tudo o que é necessário para proteger a saúde, por prejudicar ao mesmo tempo a economia”.
Questionado pelo moderador, o jornalista Carlos Daniel, sobre o estado de emergência, o eurodeputado do PCP e agora candidato presidencial considerou que as sucessivas renovações serviram de pouco, já que ficaram por tomar medidas essenciais.
Recusando a ideia de confinamentos gerais, e lembrando que mesmo em março houve setores da economia que nunca pararam e pessoas que continuaram a ir diariamente trabalhar, João Ferreira sublinhou a “necessidade de prosseguir a vida onde ela não pode parar, tomando medidas de proteção, neste caso, reforçando medidas de proteção da saúde”.
Ainda no tema da saúde, o jornalista procurou divergências entre os dois candidatos, questionando-os sobre o recuso aos prestadores de saúde privados no combate à pandemia, mas nem aí se afastaram.
Para Vitorino Silva, “as vidas não têm preço” e se o Estado não tiver capacidade de resposta, deve ir buscá-la ao lado, onde estão os privados, mas deve também reforçar o Serviço Nacional de Saúde.
“Não é aceitável que haja aqui da parte dos privados uma atitude de escolha ‘a la carte’ do que lhes interessa sempre numa perspetiva de terem lucro e não de assegurarem a resposta necessária”, disse João Ferreira na sua vez de responder.
Mais uma vez tema num debate em que não participou, o nome do candidato de extrema-direita, André Ventura, foi colocado em cima da mesa pelo próprio moderador, que questionou João Ferreira e Vitorino Silva se dariam ou não posse a um governo do Chega.
Vitorino Silva comparou a Constituição à carta de condução, afirmando que se fosse Presidente da República o seu papel seria zelar e fazer cumprir. “Se não respeitar os sinais, claro que não toma posse”, disse.
Já João Ferreira disse agiria preventivamente, fazendo tudo para encaminhar o país num sentido em que partidos de extrema-direita não teriam espaço, no plano do espaço público, para crescer.
“Se exercesse funções de Presidente da República, tudo faria para que o cenário que tem sido amplamente agitado e propagandeado pela comunicação social não se concretizasse”, sublinhou.
O maior ponto de divergência surgiu já perto do final do debate, quando Vitorino Silva afirmou que “os extremos tocam-se”.
João Ferreira respondeu, ressalvando não perceber “de que extremos o Vitorino está a falar”, mas afirmando que, em relação ao 25 de Abril, equalizar as duas partes, direita do regime e comunista, “é um exercício ofensivo de reescrita da história que nenhum democrata convicto pode aceitar de ânimo leve”.
As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de covid-19 em Portugal, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
A campanha eleitoral arranca hoje e prolonga-se até 22 de janeiro, com o país a viver sob medidas restritivas devido à epidemia.
Além de João Ferreira e Vitorino Silva, concorrem às eleições outros cinco candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).