A nova época balnear vai arrancando gradualmente e a velha questão volta a colocar-se: haverá nadadores salvadores suficientes para vigiar as praias?
O diretor do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) acredita que, depois da pandemia, altura em que a formação caiu a pique, os números voltam ao normal para dar resposta positiva à questão. “Temos nadadores em número suficiente, criamos condições para fazerem o seu trabalho e isso são condições para uma boa resposta”, afirma.
Em declarações à Renascença, o comandante Paulo Rodrigues Vicente acrescenta que “em conjugação com a certificação, que é válida durante três anos - e este ano estendida até ao final do ano - temos 4.292 nadadores salvadores, que é um número que ainda sofrerá um incremento porque decorrem ainda exames de aptidão técnica e esperamos chegar ao número normal para o nosso país de 5.200-5.500 nadadores”.
Há um problema identificado: "O grande problema é que dos nadadores certificados num ano são muito poucos os que vão desempenhar essas funções no ano a seguir."
"Não há retenção nesta atividade e, frequentemente, o sistema tem de ser alimentado pelos jovens que, terminado o ano escolar, veem esta atividade sazonal uma oportunidade para amealhar dinheiro”, reforça.
Os cursos de nadador salvador de praia ou piscina têm um custo que pode variar entre os 200 e os 350 euros. Os pagamentos, que são assegurados pela autarquia ou por concessionários, podem variar entre os seis e os 10€ por hora, sendo que nunca ficam abaixo do salário mínimo. A esta remuneração podem acrescer subsídios de alojamento ou alimentação.
O curso prevê 150 horas de formação pratica e teórica e o diretor do ISN diz que a aposta passa por manter os jovens interessados nos cursos e cativá-los. Paulo Rodrigues Vicente acredita que muitos ainda procuram esta função “por um ideal altruísta de colaborar com a sociedade e salvar alguém, julgo que até talvez mais do que por questões remuneratórias”.
Há uma solução que podia ajudar a fixar nadadores salvadores não apenas no Verão, uma vez que são necessários durante todo o ano e não só nas praias: “Apostar na criação de uma carreira especial na Função Pública, para nadadores salvadores, por categorias, que permita progressão. Isso sim: era uma resposta efetiva."
O diretor do ISN lembra que há já hoje um mapa de pessoal civil numa carreira de tripulantes de estações de salva-vidas, que é uma carreira especial: “Temos 29 estações salva-vidas guarnecidas com pessoas e meios. Se isso existe para o salvamento marítimo, na parte de assistência a banhistas também devia ser criado algo similar.”
"Estando a responsabilidade ao nível das autarquias, os nadadores salvadores, após o Verão, podiam ser integrados na atividade dos municípios que têm piscinas e atividades ligadas ao desporto e onde eles são úteis."
É com orgulho que o responsável sublinha que o curso de formação é exigente porque se trata de “preservar um bem maior, a vida”. Este ano a taxa de retenção ronda, para já, os 48%. “Formámos 543 e foram reprovados 517. Comparativamente com os outros anos -nesta época- está muito próximo dos números de 2022”, acrescenta.
Porque reprovam os candidatos? O comandante Paulo Rodrigues Vicente acredita que seja por causa de algumas escolas. “As escolas que fizeram os testes iniciais, se praticarem a avaliação módulo a módulo, garantirem que as pessoas não faltam às aulas e assumirem que a pessoa está apta para fazer o exame a probabilidade de passar com sucesso é maior. O que vejo é que vemos sistematicamente chumbos nas escolas com pior classificação."
Os cursos enfrentam ainda dificuldades de equipamento e de condições para se realizarem exames de aptidão técnica, “nem todas as piscinas têm condições, temos um trabalho enorme para garantir infraestruturas”, embora fale em boa colaboração com as autarquias na disponibilização dos meios existentes. O interior, diz, apresenta défices maiores de instalações em relação ao litoral.
Nos últimos três anos, o número de praias onde se pode tomar banho aumentou significativamente, muito também graças às fluviais, contas feitas são mais cerca de 100 praias.
“O que nos interessa é ter nadadores bons, sejam de que nacionalidade forem”, diz, lembrando que “os cidadãos brasileiros têm de ter certificação correcta para trabalharem no nosso país. A certificação é uma prova teórica com 20 perguntas para serem respondidas em 20 minutos, baseadas no manual do nadador salvador que é referência para a formação e para o exame de aptidão técnica”, explica.
O ISN tem desde 2021 um protocolo com a associação de nadadores salvadores brasileiros, e tenta garantir a deslocação de uma equipa ao brasil, onde há candidatos que se submetem a exame de aptidão técnica e são certificados lá, podendo vir depois para o nosso país.
“Este ano dos 130 que se apresentaram certificámos 105, houve 42% de reprovação”, lembrando que mesmo assim têm sempre uma segunda oportunidade tal como os restantes candidatos.
Reduzir a idade para admissão de nadadores salvadores?
A partir dos 18 anos qualquer pessoa pode ser candidata a nadador salvador, na sua maioria são do sexo masculino, mas a atividade é aberta também ao sexo feminino.
“Não faz sentido baixar a idade, nessa altura há ainda falta de maturidade que é importante”, argumenta.
Há maior interesse dos candidatos pela zona de mar ou fluviais?
Como Portugal é um país com uma grande costa marítima é natural que surjam mais candidatos para praias nessas zonas, que às vezes há mais dificuldades para recrutar para zonas fluviais sublinhando que o nível de exigência nos dois cenários é muito diferente.
Como é feita a contratação de nadadores salvadores?
Pode ser feita via autarquia ou concessionário de praia. Ao ISN cabe apenas garantir a existência de profissionais formados e aptos para salvar pessoas no mar e prestar assistência em ocorrências no areal.
O valor pago e as condições de exercício da função são muito variáveis e definidas por quem contrata, “faz sentido regular isso para que não existam diferenças entre nadadores salvadores”, defende o Diretor do ISN.
O desfibrilhador pode salvar mais vidas
No ano passado, morreram 26 pessoas nas praias, 10 foram causadas por doença súbita, paragens cardiorrespiratórias (associou-se às consequências da Covid-19).
O desfibrilhador não existe em todos os postos salva-vidas, mas os nadadores salvadores saem dos cursos a saber usá-los e o alargamento da disponibilização deste meio pode ajudar a socorrer mais banhistas.
“Uma parte substancial dos casos mortais ocorrem em praias não vigiadas e também por causa naturais, podemos concluir que o sistema é eficaz e eficiente e vai continuar a ser”, garante.
Aos portugueses deixa uma mensagem “somos todos ISN”, apelando a uma maior responsabilidade nos comportamentos que se tem nas zonas balneares e uma maior intervenção sempre que se detetem comportamentos desviastes.
[notícia atualizada às 18h45]