O advogado Aníbal Pinto, arguido no processo Football Leaks, revelou, esta terça-feira, em tribunal, que foi Rui Pinto, criador da plataforma, que teve a ideia de criar uma "offshore", nas negociações para um contrato com o fundo de investimento Doyen.
Na segunda sessão do julgamento, que já ficou concluída no Tribunal Central Criminal de Lisboa, o advogado, que responde por um crime de tentativa de extorsão à Doyen, continuou a ser questionado pela procuradora do Ministério Público (MP), Marta Viegas, e foi confrontado pela representante legal do fundo de investimento, Sofia Branco Ribeiro, sobre quem teve a ideia de criar uma sociedade "offshore" para o contrato de prestação de serviços na área informática.
“Foi Rui Pinto”, confirmou Aníbal Pinto, que estava a negociar pelo seu então cliente sob anonimato, acrescentando que “iria revelar [a identidade de Rui Pinto] quando fosse para assinar o contrato”.
A presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves, interrogou então o arguido se achava normal uma empresa querer contratar alguém que não conhecia, ao que Aníbal Pinto respondeu: “os advogados não têm de achar se é ou não normal. Têm de saber se é ou não legal”.
De acordo com a acusação, Aníbal Pinto pretendia ajudar Rui Pinto a chantagear a Doyen, entidade à qual Rui Pinto terá exigido entre meio milhão e um milhão de euros para não publicar na plataforma Football Leaks informação confidencial relacionada com contratos de jogadores.
Paralelamente, o MP argumentou que Rui Pinto já tinha conhecimento de que a Polícia Judiciária (PJ) estava a investigar a situação antes do encontro na estação de serviço da autoestrada A5, em Oeiras, em 22 de outubro de 2015, entre Nélio Lucas, o advogado Pedro Henriques e Aníbal Pinto, no qual o então representante da Doyen terá oferecido dinheiro para saber a identidade do seu cliente.
Segundo o MP, a PJ enviou um e-mail em 16 de outubro à Yandex LLC (servidor de internet russo), a pedir informações, e no dia seguinte houve uma troca de e-mails, em que o criador da plataforma teria indicado que já estava a par das diligências da PJ.
“Se soubesse que um colega de profissão [o advogado Pedro Henriques] estava a montar uma armadilha, não iria para não perder tempo. Achei estranho, nunca acreditei que Pedro Henriques me enganasse, mas ele é que disse que era ‘vital’ que eu fosse”, explicou Aníbal Pinto, que disse “nunca” ter visto o ofício da PJ e sublinhou: “quer a PJ, quer Nélio Lucas, sabem que fui lá para negociar o contrato de prestação de serviços”.
Aníbal Pinto garantiu ainda que Rui Pinto “nunca deu a entender que estava a brincar” sobre a real vontade de assinar o contrato com a Doyen e que explicou que o fundo de investimento “queria contratá-lo” para ajudar na área informática.
Sobre a entrada nos servidores da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em que relatou na sessão anterior que Nélio Lucas lhe perguntou se o seu cliente conseguiria aceder, Aníbal Pinto vincou que “se ele [Rui Pinto] viesse a entrar, seria obviamente uma ilegalidade” e frisou ter dito ao criador da plataforma que “se Nélio Lucas o quisesse contratar para entrar na FPF, que arranjasse outro advogado”.
Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.