Um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso norte-americano apontou riscos à erosão da democracia, direitos humanos e proteção ambiental no Brasil sob a atual gestão do Presidente, Jair Bolsonaro, numa análise sobre relações bilaterais.
O documento foi emitido pelo Congressional Research Service (Serviço de Pesquisa do Congresso) no último domingo, e foi assinado pelo especialista em América Latina Peter J. Meyer, numa avaliação interna das relações entre o Brasil e os Estados Unidos.
"Embora alguns membros do Congresso tenham instado o Governo de Donald Trump a aproveitar a boa vontade de Bolsonaro para desenvolver uma parceria estratégica com o Brasil, outros expressaram reservas sobre o atual Governo brasileiro", diz o documento.
"Eles estão preocupados com o compromisso de Bolsonaro com a democracia, os direitos humanos e o Estado de Direito, bem como com as mudanças nas políticas ambientais do Brasil que parecem ter contribuído para incêndios e a desflorestação da Amazónia brasileira", acrescenta o texto.
Meyer indicou que essas preocupações em relação à gestão de Bolsonaro podem levar muitos membros do Congresso norte-americano a ficarem relutantes em fazer avançar grandes acordos comerciais bilaterais ou iniciativas de segurança a curto prazo.
O Serviço de Pesquisa do Congresso foi fundado em 1914 e é o órgão responsável por recolher informações sobre temas discutidos nas duas casas: Senado e Câmara dos Representantes.
O relatório em causa traça um resumo sobre o histórico político brasileiro até à eleição de Bolsonaro, assim como das suas posições ideológicas, abordando ainda os governos do Partido do Trabalhadores (Lula da Silva e Dilma Rousseff), e os escândalos de corrupção no país.
"Em vez de construir uma coligação de base ampla para fazer avançar a sua agenda, Bolsonaro procurou manter o eleitorado polarizado e a sua base política mobilizada, adotando posições socialmente conservadoras sobre questões culturais e atacando verbalmente percebidos inimigos, como a imprensa, organizações não-governamentais, e outros poderes”, avalia o relatório.
Segundo Meyer, essa abordagem de "confronto à governança" alienou potenciais aliados de tendência conservadora no Congresso e prejudicou a capacidade do Brasil de enfrentar sérios desafios, como a pandemia do novo coronavírus e a acelerada desflorestação na Amazónia brasileira.
O texto diz ainda que os "ataques de Bolsonaro tornaram-se mais estridentes" desde março deste ano, momento em que enfrentou um amplo escrutínio sobre sua "resposta errática" à pandemia da covid-19 e as acusações de alegada tentativa de interfência em investigações policiais para proteger a sua família e aliados, num referência às acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
Apesar de Bolsonaro ser um confesso admirador de Trump, e isso ter levado a uma aproximação entre os dois chefes de Estado, o relatório frisa que há questões sensíveis que podem criar barreiras, como a relação comercial do Brasil com a China, maior parceiro comercial do país sul-americano, mas também adversário estratégico dos EUA.
"Essas divergências sugerem que as administrações Trump e Bolsonaro talvez precisem de se envolver em consultas mais amplas e medidas de construção de confiança, se pretenderem evitar o padrão histórico das relações EUA-Brasil, nas quais grandes expectativas dão lugar a deceções e desconfianças mútuas", conclui o relatório.