"Sempre que saímos de uma crise como a pandemia, aumenta a dependência de álcool"
25-10-2023 - 13:29
 • Alexandre Abrantes Neves

A dependência de álcool em Portugal aumentou quase 50% entre 2012 e 2022. Manuel Cardoso, vice-presidente do SICAD, diz-se "preocupado com a falta de respostas" na Saúde.

A dependência de álcool em Portugal subiu quase 50% na última década e a principal causa é o fim da pandemia. São as conclusões do inquérito promovido durante 2022 pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

À Renascença, o vice-presidente do SICAD, Manuel Cardoso, explica que, em 2012, a prevalência de dependência de bebidas alcoólicas se fixava nos 3%, número que “aumentou significativamente e que, em 2022, já estava em 4,3%”. Manuel Cardoso destaca ainda a subida “preocupante” do consumo de álcool pelas mulheres.

“Aos 18 anos, no inquérito que fazemos durante o dia da defesa nacional, 86% das raparigas dizem ter consumido álcool nos últimos 12 meses, enquanto nos rapazes a percentagem é inferior, fica pelos 84%. Esta prevalência do sexo feminina é uma tendência nova e deve fazer-nos pensar”, explica.

O vice-presidente do SICAD aponta várias causas para o aumento da dependência, desde logo a “maior colocação [de bebidas alcoólicas] no mercado” e a “intervenção com uma capacidade menor” junto dos utentes. Ainda assim, Manuel Cardoso sublinha que o fim da pandemia explica grande parte desta subida.

“Nós passamos de crise para crise e vamos entrando em festa sempre que a situação se alivia. Já vimos isso com a crise das dívidas soberanas e com a passagem da Troika por Portugal. As pessoas bebem porque isso lhes dá prazer, porque é uma forma de celebrar. E com o fim da pandemia a situação não foi diferente”, afirma o responsável.

O vice-presidente do SICAD diz que a “estabilidade na procura” adiantada hoje pela presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia não é um “bom sinal”. Manuel Cardoso relembra que “não há oferta sem haver procura” e que, por isso, está “preocupado com a falta de infraestruturas e os tempos de espera muito longos” para tratar os utentes com dependência.

“Se não conseguirmos reduzir os padrões de consumo de risco, seguramente vai haver, por um lado, um aumento das patologias associadas e das doenças crónicas e, por outro, uma menor esperança média de vida com saúde”, assinala.

De acordo com os um inquérito realizado pelo SICAD em 2022, e cujos resultados foram divulgados hoje, a dependência de álcool em Portugal aumentou quase 50% ao longo dos últimos dez anos. Os homens continuam a ser o grupo maioritário entre os doentes com dependência de álcool, mas regista-se um aumento entre as mulheres e os jovens.