​Coronavírus. Francisco George defende “internamento obrigatório por motivos de saúde pública”
29-01-2020 - 10:43
 • Hugo Monteiro , Cristina Nascimento

Antigo diretor-geral da Saúde defende que há "necessidade de mudar a Constituição" porque doentes gozam de “liberdade excessiva”. George nota que “em todo o mundo desenvolvido”, o internamento compulsivo por questões de saúde pública continua em vigor.

O antigo diretor-Geral da Saúde (DGS) apela aos deputados para que mudem a Constituição de forma a permitir o internamento obrigatório de doentes quando estiver em causa motivos de saúde pública.

“É preciso chamar à atenção para a necessidade de se mudar a Constituição no sentido de permitir o internamento obrigatório em nome dos interesses da saúde pública, não só do próprio doente que tem de ser tratado, mas, sobretudo, para evitar que um cidadão que esteja a viajar no autocarro não adquira uma infeção devido a esta liberdade, excessiva a meu ver, que os doentes têm de recusar internamento”, explica à Renascença Francisco George.

Nestas declarações, o antigo responsável recorda que o internamento compulsivo só está previsto para casos do foro psiquiátrico o que, na sua opinião, é insuficiente.

“Neste país um doente que tenha uma tuberculose ativa multirresistente ou uma infeção com ébola ou agora com o coronavírus, pode sair do hospital e entrar no metropolitano e transmitir a sua infeção a quem está junto dele no metropolitano, no autocarro, no cinema. Isso não faz sentido”, argumenta.

Já sobre a dimensão do problema do surto, o antigo diretor-Geral da Saúde reconhece que ainda é desconhecida “a dimensão do iceberg que está submerso”.

“Temos de admitir que a situação pode vir a piorar, a agravar-se, a curva epidémica pode vir a mostrar sinais de ainda maior preocupação”, diz, sublinhando a necessidade de “estar preparados para todos os cenários”.

Neste sentido, reforça, apela a uma reflexão por parte dos deputados, considerando que “não faz sentido um doente recusar internamento ou quarentena quando em todo o mundo desenvolvido estas medidas de saúde pública continuam em vigor”.

A doença continua a progredir e são agora mais 26 vítimas mortais, em comparação com os dados revelados na terça-feira. Vinte cinco destas vítimas mortais foram registadas na província de Hubei, o epicentro da epidemia.

O número de casos confirmados também subiu de 4.515 para 5.974, indicam as autoridades chinesas. Contas feitas, há mais 1.432 pessoas infetadas com o coronavírus em todo o território da China.

Várias companhias aéreas suspenderam todos os seus voos de e para a China devido à propagação do coronavírus: a britânica British Airways, a russa Ural Airlines, a Lion Air (Indonésia) e a Seoul Air (Coreia do Sul).

Na Alemanha as autoridades de saúde confirmaram mais três casos de contágio pelo novo coronavírus (2019-nCoV) detetado na China, aumentando para quatro o número de contagiados naquele país. É o segundo país na Europa afetado pelo surto, depois de França.

Além do território continental da China, de França e Alemanha, também foram reportados casos de infeção em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Austrália e Canadá.

Os sintomas associados à infeção causada pelo coronavírus com o nome provisório de 2019-nCoV são mais intensos do que uma gripe e incluem febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias, como falta de ar.