Patriarca de Igreja na Índia morre de complicações pós-Covid
12-07-2021 - 18:05
 • Filipe d'Avillez

Basílio Mar Thoma Paulo II é o segundo líder de uma confissão cristã a morrer de Covid, depois do Patriarca da Sérvia, que morreu em novembro de 2020.

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Morreu esta segunda-feira, aos 74 anos, o líder da Igreja Malankara, na Índia.

Basílio Mar Thoma Paulo II morreu de complicações respiratórias, sequelas da infeção de Covid que tinha contraído alguns meses antes, agravadas pelo facto de sofrer também de cancro do pulmão.

Este é o segundo mais alto hierarca cristão a morrer de complicações associadas à pandemia de Covid-19. O primeiro foi Ireneu, Patriarca da Igreja Ortodoxa da Sérvia, que morreu uma semana depois de ter ido presidir ao enterro do arcebispo metropolita de Montenegro, que também morreu de Covid.

Na altura da morte do arcebispo de Montenegro houve muitas críticas ao facto de o enterro ter juntado centenas de milhares de pessoas, incluindo clérigos, sem qualquer respeito pelas distâncias sociais e cumprindo tradições próprias como beijar a face do cadáver do morto.

Basílio Mar Thoma Paulo II, cujo título completo era Catolicós do Oriente e Metropolita Malankara, liderava a Igreja Malankara Síria Ortodoxa desde 2006.

A sua morte já foi lamentada por vários líderes locais, tanto religiosos como civis, incluindo o primeiro-ministro Nahendra Modi, e algumas figuras internacionais.

A Igreja, que tem cerca de 2,5 milhões de fiéis, é uma das principais igrejas cristãs do Sul da Índia e herdeira, juntamente com a Igreja Síro-Malabar e a Igreja Siro-Malankara, ambas católicas, de uma tradição cristã que antecede em mais de mil anos a chegada dos missionários portugueses nos últimos anos do Século XV.

Segundo a tradição local, a região de Kerala foi evangelizada por São Tomé, discípulo de Jesus, razão pela qual os patriarcas locais costumam adotar o nome Thoma. A tradição litúrgica é do Patriarcado de Antioquia, localizada na região da antiga Síria, o que explica a existência do termo Síria, ou Siro, nos nomes das Igrejas que ainda lá existem.

Os cristãos de Kerala não aceitaram o Concílio de Calcedónia e estavam por isso em comunhão com algumas igrejas do Médio Oriente, incluindo a Igreja Siríaca, a Igreja Copta e outras como a Igreja Etíope e a Igreja Arménia.

A influência dos portugueses, que tentaram levar os cristãos locais a entrar em comunhão com Roma, levou a divisões internas. Os primeiros cristãos de Kerala a aceitar tornarem-se católicos formaram a Igreja Siro-Malabar, que é atualmente a maior confissão cristã da região. Mais tarde uma nova cisão na Igreja Ortodoxa levou à formação da Igreja Siro-Malankara, que também entrou em comunhão com Roma, deixando a Igreja Malankara Ortodoxa, a que presidia Basílio Mar Thoma Paulo II, como principal representante da ortodoxia na Índia.

Para além do catolicós malankara e do patriarca da Sérvia, vários outros hierarcas cristãos morreram de Covid, incluindo o cardeal D. Eusébio Óscar Scheid, arcebispo emérito do Rio de Janeiro e vários bispos católicos.