“O PSD não é um partido de direita. O PSD, quando nasceu, em 1974, não só era de centro como é marcadamente de centro-esquerda” – foi assim com uma recusa da direita que o presidente do PSD, Rui Rio, se apresentou na Convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), conhecida como o ‘congresso das direitas’.
Rio, que encerrou a Convenção esta quarta-feira à noite, até invocou uma conversa que teve com Francisco Pinto Balsemão durante a tarde em que aquele fundador do PSD lhe terá dito para lembrar isso mesmo: que o PSD nasceu no centro-esquerda.
Numa sala que tinha passado dois dias a discutir os caminhos da direita para ser alternativa, ouviram-se uns poucos e ténues aplausos quando o líder do maior partido da oposição disse que afinal não é direita e que se aquela convecção fosse de facto um congresso das direitas ele não podia ali estar.
De resto, Rui Rio fez um discurso em que como ele próprio disse repetiu o que defende há anos, como a reforma do Estado e uma reforma da justiça. Numa longa intervenção com cerca de 45 minutos, o presidente do PSD criticou, como de costume, a degradação do sistema de justiça e do sistema político, que corroem o regime.
“Uma democracia que fomenta julgamentos populares não é uma democracia que respeita os seus princípios”, afirmou o presidente do PSD, voltando a repetir que é contra os “julgamentos de tabacaria”. E aí esclareceu que, afinal, o que condena é apenas a violação do segredo de justiça quando os casos ainda estão em investigação.
Rio responde a Rui Moreira. "O julgamento é público e a porta está aberta"
Foi nesse ponto que aproveitou para responder a Rui Moreira, que criticou por ser candidato à câmara do Porto e acusado no caso Selminho. Rui Moreira tinha respondido que Rui Rio estava a condená-lo na praça pública contrariando o que defende. Ora, explica Rui Rio, este caso já tem acusação formada, pelo que pode ter opinião sobre ele.
“O presidente da Câmara do Porto veio dizer que me contradigo porque agora emiti uma opinião, não propriamente sobre o processo, mas sobre o caso dele. Atenção que o que estou a falar é na fase da investigação, é na fase do inquérito e da investigação que há a quebra do segredo de justiça. A partir do momento em que a acusação está feita e um juiz de instrução de pronunciou a própria decisão instrutória é pública e o julgamento é público e a porta está aberta e as pessoas têm de conhecer”, afirmou Rui Rio.
“O que não é admissível é quando estamos na fase de investigação começar de antemão a julgar e a condenar as pessoas e a rebentar com avida das pessoas para sempre através de julgamentos de tabacaria que mesmo a pessoa venha a ser absolvida foi de tal maneira que já não se consegue safar”, acrescentou.
O líder do PSD também defendeu a necessidade de prestigiar a política, que considera “uma das atividades mais nobres que a sociedade pode ter”. Disse que a qualidade dos políticos se tem vindo a degradar e que quando a sociedade começa a dizer que todos são mentirosos e corruptos se corre o risco de isso se tornar verdade.
“Cada vez é mais difícil conseguir gente capaz, gente séria para uma atividade em que a fama é esta”, lamentou. Segundo Rio as pessoas na política com essas caraterísticas ainda são uma minoria, mas percentualmente têm vindo a aumentar e hoje são mais do que há 20 ou 30 anos.
“A comunicação social tem uma responsabilidade enorme nisto por confundir a árvore com a floresta”, acusou.