O ex-acionista da TAP Humberto Pedrosa disse esta terça-feira que a opção política do Governo foi auxiliar a companhia em 2020 de forma a voltar ao controlo público, mas acreditava que o executivo manteria o grupo Barraqueiro como parceiro estratégico.
"A opção política do Governo português foi a de disponibilizar auxílio à TAP em termos que permitissem adquirir novamente o controlo", afirmou o dono do grupo Barraqueiro, que está a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito à companhia aérea.
Humberto Pedrosa disse ainda que, estava "crente de que a vontade [do Governo] seria de que o grupo Barraqueiro fosse seu parceiro estratégico" e, por isso, aceitou viabilizar a opção do Governo, cedendo a participação.
"Infelizmente, veio mais tarde a tornar-se evidente que o plano de reestruturação desenhado e posteriormente aprovado não permitira a manutenção da nossa participação", realçou o empresário, que fazia parte do consórcio Atlantic Gateway, juntamente com David Neeleman.
No caso do empresário brasileiro, o Estado pagou 55 milhões de euros para ficar com a participação na companhia aérea portuguesa.
"Como empresário, o fim da participação do grupo Barraqueiro no grupo TAP não foi, naturalmente o que eu gostaria", admitiu Pedrosa.
Ainda assim, o também ex-administrador da TAP congratulou-se pelo "muito que foi alcançado" durante a participação privada na companhia aérea, "que apenas circunstâncias e absolutamente anómalas [pandemia] interromperam".
Questionado mais tarde pelo deputado social-democrata Paula Moniz sobre a saída da TAP SGPS, mas não de imediato da TAP S.A., Humberto Pedrosa disse que foi uma aposta sua.
"Não saí de vez exatamente à espera que a pandemia não fosse tão demorada e que se conseguisse, gostaria de ter continuado na TAP e estava empenhado na recuperação da TAP", afirmou, acrescentando que não teve qualquer indicação do Governo no sentido de fazer aquela aposta. "Foi um ato de fé, [...] isto no mundo dos negócios às vezes é preciso um bocadinho de sorte", sublinhou.
Dono do grupo Barraqueiro, o empresário português de 75 anos tornou-se sócio no consórcio Atlantic Gateway com o brasileiro David Neeleman, em 2015.
O consórcio adquiriu uma participação de 61% na companhia aérea, numa privatização concretizada na reta final do Governo de PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho.
Mas a mudança de Governo, que passou a ser liderado pelo socialista António Costa, com o apoio do PCP e BE, levou o empresário novamente à mesa das negociações, reduzindo a participação do consórcio para 45% e reforçando a do Estado, de 39% para 50%. Os restantes 5% do capital ficaram nas mãos dos trabalhadores. .
Quase um ano depois de ter fechado o acordo com o Governo de Passos Coelho, e após a reversão negociada com a esquerda política, Humberto Pedrosa disse não estar arrependido, apesar do atraso na concretização do negócio. .